quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Vandalismo. Violência. Violação.

Enquanto os dois guardas estapeavam três drogados em uma parede de tijolos, Adam teve tempo para escrever com spray de tinta preta na porta da viatura policial. Liberdade. As palavras transmitiram exatamente o objetivo de tudo isso.

Agora, um dos guardas corria em sua direção com um cassetete em mãos. A rua cinzenta se estendia à frente. O aprisionamento eminente atrás.

Subindo por uma grade, foi fácil deixar a perseguição para trás. Porventura, o homem aparentou esquecer-se do que ocorrera. Idiota.

- Filho da puta! Vagabundo de merda. – foi o que ele disse.

A natureza do ser humano selvagem aciona os gatilhos. Já dizia Jackes, seu amigo.

Talvez ele estivesse certo, pois o guarda puxou uma trinta e oito e disparou através do metal entrelaçado das grades.

Sangue. O mais belo rubi vermelho desceu do peito de Adam como uma linha. Ele não podia mais correr. Caiu sobre o chão e o céu se tornou escuro.Um crime necessário, ele, o guarda, dirá.

Tudo começara há um ano atrás. Sua namorada, Katie, lhe ofereceu o incrível mundo novo. Quando seus olhos brilhavam em raízes e ramificações avermelhadas. O único e primeiro verão, desde que os novos amantes da sua mãe haviam aparecido: Jack Daniel’s, Johnnie Walker e Jim Beam.

Katie devia dinheiro a um drogado, Joseph, mas apenas devia. Pagou-lhe cada centavo em gemidos de dor, quando ele a estuprou. Foi a gota d’água. No dia 21 de julho, seu corpo foi encontrado com dez buracos de faca no peito e rosto, em frente a um boteco que fedia a mijo.

Assim foi o inicio. A cidade passou a temer os homens que andam pela madrugada. Eu via os seus rostos. Vi Katie nua e sorrindo. Vi Andrew correr sangrando. Vi Nathan trancando sua porta. Adeus, amigos.

Quando percebi, estava me tornando um caçador de todos que fizeram mal a minha doce e gentil garota. Muitos haviam lhe feito mal. Os bueiros entupiam com tanta carne dilacerada e o porta-malas do meu carro fedia a podridão. A sarjeta desta cidade chorava lagrimas e espumas. A imundície aflorava.

A desgraçada havia me traído com cara um dos seus ex-amigos. Ela pagou. Pagou sim. Só teve tempo que murmurar entre os gemidos.

- Não, Adam, eu prometo que vou parar...

Ela teve a escolha dela. Agora havia me tornado isso.

Os policiais corriam de um lado para o outro. Diziam que seus pais haviam sido justos e honrados. Suas fardas azuladas escondiam seus verdadeiros rostos hipócritas e hediondos. Apreenderam a minha cocaína. A única garota que nunca iria me trair. Fazer-me sofrer. A minha dama da noite.

Cigarros e whisky não mudavam nada. Eu via Katie entre a fumaça e poças de álcool espumante no carpete. Via seus olhos reluzindo friamente em cada gota.

Acreditar no trabalho honesto? No suor como recompensa? Isso não era vida. Não para mim. Eu tinha dezoito anos. Queria correr nu por ai. Queria esmurrar o rosto velho e cansado de um mendigo do centro. Queria quebrar uma garrafa de vodka na cabeça de alguém. Queria estourar uma cadeira de madeira nas costas de um filho da puta qualquer.

Essa trilha foi traçada. Essa trilha me levou ao precipício.

Agora eu era um vândalo. Senhorita Grace me arranhava enquanto eu a possuía. Edward furava-me com uma tesoura, enquanto eu rasgava seu rosto com uma faca. Até Jackes, meu melhor amigo até hoje, foi apunhalado pelas laminas da minha garrafa quebrada.

Em casa, a vida era pior.

Mellissa apanhava todos os dias do marido, Peter. Peter odiava a sua vida. Ele gritava que ela saia com outros homens e ela chamava-o de ‘corno’ ou ‘chifrudo’.

Minha irmã comia cosméticos em seu quarto e cortava os pulsos ao som de Nirvana. Eu nunca nutri muita paixão por musicas depressivas. A tristeza não era nada. A tristeza era fraqueza. Eu preferia Slipknot.

Rosas? Rosas que se fodam. Eu não ligo a mínima para elas. Não mais. Na cama cheia de espinhos e pétalas vermelhas, era fácil sentir-se cansado.

Hollywood mostrava-me a verdade. Ossos de plástico partidos. Poças e mais poças com litros de groselha pra todo o lado. Armas atirando em qualquer um. Intelectuais e mulheres brancas e sedutoras com sua fala mansa.

Que tudo isso queime no inferno. Sem isso, ninguém saberia o que dizer. Vermes do mundo moderno. Criaturas que rastejam por canos entupidos de merda por dinheiro, vaginas e cigarros.

A política tira qualquer prazer que as pessoas possam ter. Um cadáver a mais não é nada. Vamos matar em nome dos grandes. Vamos para as guerras pessoais trajando suas bandeiras. Vamos fingir um falso patriotismo quando qualquer merda de esporte estiver ai.

Eu estou fora de controle.

Eu estive correndo entre os becos. Eu caçava qualquer utopia imoral que me desse prazer. Eu queria liberdade. Eu queria voar por ai em uma Harley Davidson. Comecei a minha dieta de licor e drogas muito cedo, já dizia Jackes.

Eu estou fora de controle.

Uma prostituta barata me chamava para baixo de um viaduto. Ela sabe o gosto do dinheiro. O gosto que ela sentiu.

Um dono de boteco feliz por minhas lagrimas caírem em seu copo e se misturarem ao álcool. O dinheiro pagou-lhe a liberdade. Pagou o assaltante que o matou em sua casa.

Alimentem suas mentiras, ratos. Cresçam entre o consumo que devora as emoções.

Vandalismo é apenas uma palavra feia para liberdade.

Eu sou um sociopata urbano.


Mais tarde, conheci Alicia. Ela tinha cabelos escuros e remexidos. Como eu a amei. Ela me mostrou um caminho. Ah se mostrou. Mas não deu muito certo. Ela era muito apegada ao irmão, que me atacou sem motivos. Maldito retardado.

Alicia, se você me deixar, eu tirarei suas calças e lhe darei tudo o que deseja. Mas ela não quis. O irmão mordeu a minha orelha. Agora ele é retardado e cego de um olho.

Continuamos nos encontrados escondidos. Eu lhe ensinei as minhas artes, mas ela não me queria como namorado. Queria como amante.

Ela tinha um namorado. Joel.

O sistema me induziu a esse futuro.

O gatilho reduziu qualquer possibilidade de redenção.

Alicia, Katie, Jackes, adeus.

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