quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Belhorn

Era noite fechada ha muito tempo já quando Lorde Belhorn acordou em sua luxuosa cama, abraçando Magraty, sua esposa. Sir Loster murmurava seu nome baixinho com sua voz sussurrante.

- Lorde Belhorn, Capitão Crymer trás noticias da escavação. – dizia ele. – Disse que era urgente e que se não acordássemos o senhor, nós iríamos amanhecer com as cabeças na ponta de lanças.

Lorde Belhorn sentou-se na borda de sua cama, embrenhado em caros cobertores de seda enquanto Margraty ainda dormia ao seu lado em um sono profundo. Sir Loster entregou-lhe um envelope branco com o selo da Casa Dos Grifos fechando-a.

Ele era um homem alto e imponente, de pele clara, olhos profundos e negros como uma noite sem lugar, cabelos avermelhados, compridos e lisos, na altura dos ombros e uma um rosto de feições nobres. Seu nariz era fino e pontudo, sua boca era escassa de carne nos lábios e os primeiros sinais de sua idade que avançava, começavam a aparecer discretamente. Seus braços eram fortes e grossos, começando em ombros largos e terminando em mãos calejadas e firmes. Mas algo chamava mais a atenção do que sua beleza singular de um típico lorde. Uma grossa cicatriz descia desde sua têmpora, passando pelo rosto e parando no meio de seu pescoço.

A luz de uma vela acesa já no fim, trepidava em um castiçal ao seu lado. A chama dançava sobre o pouco de linha enquanto lia a carta com olhos sérios.

- Se o senhor quiser, posso mandar chamar o Capitão Crymer. – disse o cavaleiro. Sir Loester era baixo e atarracado. Usava uma cota de malha sob a armadura prateada de aço fervido que cobria seu corpo completamente com as placas sobrepostas. A armadura cintilava, refletindo a chama da vela. Usava também um elmo pontudo, o qual descia uma proteção nasal, escondendo seu nariz e fazendo cair uma sombra escura sobre seu olhar. Em uma mão, portava uma lança de lâmina comprida e larga.

Lorde Belhorn levantou-se da cama e gemeu quando suas costas rangeram com o esforço em plena madrugada. Não era um sujeito velho, tinha pouco mais de trinta anos, mas portava-se como um homem de sessenta.

- Chame-o. – respondeu rispidamente.

O soldado fez uma reverencia, abaixando-se com a mão sobre o abdômen e saiu.

Lorde Belhorn sabia que não eram boas noticias. Em seu âmago, sempre suspeitou que Lorde Tyrann não se inclinava perante os deuses do vento e das estrelas. Aquele idiota. Pensou. Então abriu a carta rasgando a ponta do envelope e puxou uma folha amarelada.

Seus olhos percorreram as poucas linhas escritas. Depois, percorreram novamente. Então em um acesso de raiva, amassou a folha fechando o punho sobre ela e a arremessou na parede.

- Merda! – rosnou sentindo o sangue subir a cabeça. – Aquele idiota!

Margraty se mexeu na cama e murmurou.

- Amor? Está tudo bem? – sua voz estava carregada de sono e cansaço. Havia dado prazer a seu marido naquela noite e encontrava-se cansada.

- Está, Margraty, vá dormir. – respondeu Lorde Belhorn. – Não se preocupe. Deite e relaxe.

A mulher sentou-se na cama e seus cobertores de seda esverdeada deslizaram suavemente em seu corpo, relevando sua nudez. Era uma mulher bela e atraente, apesar de sua idade avançada. Sua pele era clara como a do marido, mas seu cabelo comprido e liso era preto e sem brilho. Possuía feições bem torneadas com orelhas, boca e olhos perfeitamente simétricos.

- O que houve? – perguntou ela abrindo um sorriso e puxando Lorde Belhorn pelo seu roupão de dormir, fazendo-o cambalear pra trás e se sentar na beirada da cama. Então Margraty se ajeitou com as pernas ao redor do homem e começou a massagear seus ombros tensos e rígidos.

- Lorde Tyrann, enviou uma carta do Monte Viper dizendo que não vai parar as escavações. – respondeu ele enquanto inclinava a cabeça para trás e fechava os olhos, relaxando com a massagem.

Margraty massageava em torno da coluna do marido, com os dedos dançando entre as inúmeras cicatrizes.

- E é tão importante assim que ele pare as escavações? – perguntou ela. – Tem medo de que? De que as historinhas pra crianças se tornem verdade? – depois riu baixinho, cobrindo a boca com a palma da mão.

Lorde Belhorn suspirou.

- Não é isso. – respondeu ele, de forma cansada e arrastada. – Monte Viper ainda faz parte das nossas terras. Ele devia se lembrar disso! – E você também.

Margraty abraçou o homem por trás e beijou sua orelha.

- Não ligue para ele. – disse ela ao pé de seu ouvido. - O que você quer com aquela montanha esquecida pelos deuses? O que quer com ela se tem a mim?

- Margraty, pare. – disse ele rispidamente, afastando a orelha dos lábios carnudos da esposa. – Achron é lá perto e nós dois sabemos que precisamos de linhas de defesa lá. É um dos únicos pontos de resistência contra os reinos do oriente.

A mulher se afastou e deitou novamente na cama. Bocejou em alto e bom som e então disse.

- Você. Sempre falando de suas guerras particulares. Uma rainha precisa ser amada pelo seu rei!

Lorde Belhorn se arrastou pela cama e deitou ao lado de Margraty. Afagou seus cabelos negros e beijou-lhe de leve. Margraty. Você não entende... Pensou em seu intimo. Eu só quero protegê-la. E realmente queria, mas as coisas não andavam saindo como esperava. Precisava ter sempre soldados às portas de onde quer que fosse, precisava ordenar aos seus capitães que marchassem pelas ruas da cidade de Estiorly. Precisava de informantes em todos os bordéis e tabernas da cidade.

- Eu te amo, minha rainha. – disse, olhando-a nos olhos. Olhos faiscantes. Como os de um dragão.

- Eu... – antes que ela pudesse terminar a frase, o som de batidas na porta ecoou pelo quarto.

- Cacete. – resmungou Lorde Belhorn levantando-se da cama, gemendo quando ouviu suas costas estalarem. Apesar de ser um homem forte e viril, sempre estava resmungando de fazer esforço, quase como por costume.

Atravessou o quarto e abriu a porta. Sir Loster estava parado no comprido corredor. A luz dos archotes sombreava o cavaleiro dando-lhe um aspecto sombrio, apesar de sua baixa estatura. Ao seu lado, Capitão Crymer coçava a orelha. Era um sujeito de dezessete anos e feições magras. Usava a armadura de Capitão mal vestida, com ombreiras e braçadeiras tortas, como se tivesse sido colocada as pressas. Era um homem de rosto liso e bronzeado, com nariz achatado e olhar severo.

- Me trás noticias ruins, me acorda a essa hora da madrugada e ainda não se veste direito para uma convocação com o seu senhor? – disse Lorde Belhorn usando sua voz mais grave e forte.

Capitão Crymer pareceu desconcertado, como se tivesse perdido a força nas pernas.

- Perdão, senhor. Não quis fazê-lo nada disso. – respondeu após algum tempo, tentando aparentar a mais completa calma. – Só achei que as noticias eram importantes...

- E quanto à armadura? – Perguntou Lorde Belhorn no mesmo tom que havia usado antes.

- Eu... Eu estava cansado, senhor. Decidi deitar-me um pouco. – respondeu o capitão. – Cavalgamos três dias praticamente sem descanso... Se for do seu desejo um castigo, não reclamarei.

Lorde Belhorn abriu um sorriso mostrando suas fileiras de dentes alvos e perfeitamente alinhados.

- Estava apenas brincando, desempenhou bem o seu papel. Venha, vamos pra algum lugar fechado. As paredes têm ouvidos.

Abraçou o Capitão Crymer e direcionou-lhe delicadamente para dentro do quarto. Quando entrou, virou-se para Sir Loster e disse.

- Não quero ser incomodado. – e fechou a porta.

Margraty dormia novamente na cama, virada de bruços sobre o colchão. Lorde Belhorn pegou uma coberta de seda e cobriu as costas nuas da esposa.

- Sente-se, ali no canto, ao lado da escrivaninha, tem dois bancos.

Quando se virou, viu que os bancos de madeira acolchoados com duas almofadas vermelhas com detalhes dourados estavam um de frente para o outro ao lado da escrivaninha onde pousava um castiçal de ferro com velas apagadas. Pegou então a única vela acesa e foi até o castiçal. Enquanto acendia todas as cinco velas, uma por uma, perguntou.

- E então, como foi de viagem?

- Fomos muito bem, senhor. Estávamos em sete, como me foi ordenado. – começou o capitão. – Sete cavaleiros juramentados a cavalo. Seguimos o Rio Das Lilases pela estrada e chegamos a Achron. A cidade estava esquisita, os cidadãos nos olhavam com cara feia e pagamos três vinténs de prata para dormir em uma estalagem digna e colocar nossos cavalos no estábulo.

- Muito mais caro do que qualquer outra estalagem da região. – comentou Lorde Belhorn quando terminou de acender as velas. Colocou a ultima vela de volta no lugar onde estava e sentou-se de frente para o capitão. – continue.

- Na manhã seguinte, fomos para o Monte Viper, onde encontramos Lorde Tyrann inspecionando a escavação. – continuou - Ele me deu uma carta e mandou que nós fossássemos embora, se não, seriamos obrigados a isso. No meio do caminho de volta, passamos pelo Bosque Das Sete Arvores, onde fomos atacados por uns vinte bandidos. Estava muito bem armados para vagabundos do mato, isso eu garanto. Foi uma emboscada. Pegaram-nos pela retaguarda, mas quando matamos oito deles e perdemos dois dos nossos, eles fugiram.

Lorde Belhorn ouviu a tudo atentamente. Praticamente não piscou e, quando Capitão Crymer terminou o relato, bufou pesadamente se ajeitando na cadeira. Trabalho dos grifos. Devia ter mandado mais homens.

- E a escavação? – perguntou. – Como está?

- O Monte Viper está cheio de buracos em sua superfície, senhor. – respondeu o capitão lentamente, como se tentasse se lembrar do que vira. – Haviam cavernas feitas à picareta, indo para as entranhas da montanha. Mas não vi mais nada, não pude chegar muito perto, já que algumas dúzias de soldados interceptaram a mim e os meus homens.

Belhorn parecia inquieto. Não gostou da notícia que havia recebido, pois os homens que havia mandado eram cavaleiros raros nesses tempos, cavaleiros que faziam jus aos seus votos.

- Muito bem, pode se retirar Capitão Crymer. – disse Lorde Belhorn com um sorriso amarelo no rosto. – Seus serviços foram de grande ajuda.

O Capitão Crymer levantou-se do banco com os pés juntos e tocou o peito com o punho fechado.

- Ás suas ordens, meu senhor. – disse como se estivesse em coro e se retirou do aposento.

Esse seria o começo do livro, mas não...

- Por aqui, Emelin! – disse Ridden cambaleando pelo corredor escuro e virando-se. Era um garoto baixo, gordo e roliço, de aproximadamente treze anos e aparencia nobre. Tinha cabelos espessos e oleosos da cor de bronze, que combinavam sutilmente com seus olhos amendoados. Vestia um túnica verde-esmeralda feita de algodão de boa qualidade, onde brilhava em linhas douradas o selo de sua casa sobre o peito, uma serpente em posição de bote.

- Estou indo, Sir Ridden Rosewind, meu nobre cavaleiro. – riu a garota esgueirando-se pela parede tentando manter o equilibrio. Ela era claramente uma nobre da família Bortrell. Não devia fazer muito tempo que teve o seu primeiro sangue e seus cabelos ruivos desciam-lhe pelo rosto ruborisado pelo doce calor do vinho. Usava um vestido de seda, levemente decotado, incrustado com pedras negras que refletiam a luz dos archotes acesos.

Eles caminhavam bêbados pela ala leste do, aproximando-se cada vez mais dos porões e calabouços esquecidos nas raizes da montanha onde havia sido construido o castelo Griffon. Era um local escuro, frio e abandonado, onde a umidade cintilava nas paredes em finas gotas de água negra e podre. As paredes eram de uma cor entre o cinza e o preto, graças as pedras da montanha que foram usadas para a construção.

Ridden parou quando encontrou um lugar onde dois corredores se encontravam e esperou. Quando a garota o alcançou, ela sorriu maliciosamente e perguntou tropeçando nas próprias palavras.

- Onde está me levando, meu bravo heroi?

- Vou lhe fazer uma surpresa, minha princesa. – respondeu o garoto roliço pegando-a pelo pulso e puxando-a firmemente pelo corredor.

- Eu gosto de surpresas. – disse Emelin liberando seu forte hálito de álcool.

Quando viraram o corredor, perceberam que nenhuma das tochas na parede estavam acesas por cerca de vinte metros à sua frente, dando ao lugar uma densa penumbra. Ridden empurrou a garota contra a parede e se aproximou dela fitando-a nos seus olhos escuros.

- Não devíamos estar aqui, senhorita Emelin. – sussurrou ele no pé de seu ouvido.. – É falta de educação sair assim de uma festa.

A garota, por um momento, quase caiu no chão. Mas recompôs-se, colocou os braços em torno de Ridden e puxou-o para junto de seu corpo magro e desproporcional de uma garota que ainda não teve suas formas de mulher completamente mudadas.

Ele beijou-a e começou a afagar os cabelos ruivos e penteados da garota. Logo, estava descendo as mãos pelas suas costas, passando pelo seu corpo até chegar às coxas. Agarrou-as com firmeza e abriu as pernas da garota. Emelin parou de beija-lo e começou a arfar baixinho, de olhos fechados, enquanto o garoto mordia seu pescoço freneticamente.

Logo, Ridden soltou a coxa da garota e começou a passar a mão entre as suas pernas por cima da calça enquanto ela soltava baixos gemidos e afagava o membro do garoto com seus dedos delicados.

Em meio a isso, Emelin abriu os olhos por um instante e com sua visão estranhamente distorcida, vislumbrou a silhueta de um garoto os observando calmamente em meio a escuridão. Ele era alto para a idade que parecia ter, não mais que dez anos, e possuía feições angulosas e fortes em seu rosto fino. Seu cabelo era claro como palha e descia pelo seu corpo pálido e magro de aparência quase doentia. Os olhos chamavam muito a atenção, pois eram desiguais e de cores diferentes: um de um profundo azul-celeste e outro negro como a noite mais densa. Se os olhos chamavam a atenção, algo nesse estranho garoto chamava mais ainda. Uma enorme protuberância do tamanho de um cabo de espada emergia de seu cabelo por trás da orelha direita. Feita de pele enrugada e seca, era cheia de cicatrizes e marcas. Entre as fendas na pele, haviam dentes tortos, alinhados de forma desnatural e pelos em algumas extremidades.

- Cacete! – exclamou ela, assustada, empurrando o garoto que a assediava.

Adgar virou-se assustado e fitou o ser nas sombras.

O garoto de aparência exótica precipitou-se e pareceu que iria correr na direção contraria da dos dois amantes, mas Adgar brandou com sua voz claramente embriagada e carregada de álcool enquanto balançava para se soltar de Emelin..

- Em nome das sombras, que porra é você?

O garoto parou imóvel, encarando Ridden com seus olhos anormais, que por sua vez, olhou de relance para Emelin e esboçou um sorriso com o canto da boca.

- Sua cria de demônios. Venha aqui! – rosnou ele cuspindo no ar. – Vou lhe ensinar a não ficar olhando o que os adultos fazem!

– Quem é você? Algum fantasma ou monstro que assombra o castelo? – perguntou Emelin, como se falasse sério.

- Eu só estava de passagem. – murmurou ele que, por mais edionda que fosse sua aparencia, possuia uma voz serena.

- Passagem? – perguntou Ridden em tom de escarnio dando um passo desengonçado na direção do garoto. – Sua mãe não lhe ensinou a ser homem?

- Ensine ele, meu cavaleiro! Proteja sua princesa dessa criatura vil!– disse a garota com tom acusador, como se falasse seriamente sobre ser uma princesa e sobre o garoto gordo e suado a sua frente, fosse de fato um cavaleiro honrado.

Sacando uma comprida faca de aço polido do cinto, Ridden apontou-a em direção ao garoto no escuro. Com o braço trêmulo no ar, rugiu.

- Se não pedir perdão e fugir imediatamente, vou abrir o seu estômago, saco de merda!

- Não, irmão. Não posso fazer isso. – disse o garoto, inclinando a cabeça para baixo e colocando as mãos abertas na cabeça. – não posso fazer isso, você sabe como foi da ultima vez! – gritou. Sua voz ecoou pelo corredor frio e mal iluminado e em seguida, um silencio devastador tomou conta do local.

Ridden foi em direção do garoto com a faca em punho. Em seus olhos, as chamas dos archotes brilhavam.

- Não, não! – disse o garoto nas sombras enquanto andava de costas, pé ante pé, até desaparecer na escuridão. Ridden não pareceu se abalar e entrou na densa e sólida penumbra onde a luz do fogo não entrava.

A senhorita Emelin Bortell fitou as trevas a sua frente angustiada, tentando ver algo além de uma mancha negra. Após alguns segundos de silêcio total, ouviu um gemido de dor e de golpes. E então, do véu escuro, emergiu um grito agudo e então viu a forma cilíndrica de seu falso cavaleiro, Sir Ridden voltando correndo desajeitado. Seus olhos estavam fechados e um filete de sangue escorria de cada um deles. Ele arfava e estava com a camisa, agora rasgada, completamente encharcada e gotas de um sangue avermelhado.

Então, o garoto gordo tropeçou em seu próprio pé e desabou no chão.

- Caralho! – disse ele aos berros, ainda no chão. – Esse bastardo enfiou os dedos no meu olho! Esse filho da puta, deformado, filho de um demônio! -

A garota olhou horrorizada o seu cavaleiro caído, indefeso e impotente sobre o chão frio. Ele urrava de dor e agonia.

- Emelin, me ajuda! – brandiu ele de bruços enquanto tateava o chão a procura dos pés de sua amada princesa.

Quando os dedos gordos do garoto quase tocaram a perna fina de Emelin, ela se afastou e correu na direção contraria sem olhar para trás.

O peculiar garoto corria apressado pelos corredores escuros. O que havia feito? Por mais que fosse ele gordo, asqueroso e repugnante, ainda era um garoto da alta nobreza da Casa Do Tigre.

O suor frio escorria pelas suas têmporas enquanto deixava o local da briga para trás.

O que vai acontecer comigo, irmão? Perguntou mentalmente.

Meu querido Elliot. Não faço ideia. Temo que ele resolva se vingar usando seu posto alto na hierarquia. Sussurrou a resposta em uma voz gélida e cortante.

Elliot. Esse foi o nome dado a ele pela sua mãe quando nascera.

Por que você me disse para fazer aquilo então? Perguntou Elliot preocupado. Seus pensamentos ocorriam-lhe rapidamente pela cabeça. Estavam carregados de pânico e um temor inimaginável. Ele já havia feito algo assim uma vez. O castigo lhe dói até hoje e as cicatrizes não o deixam esquecer o que sofrera.

Aquele bastardo, covarde, bêbado de merda. Ele estava nos insultado de todas as palavras que odiamos. Ainda na frente de uma garota! Algo devia ser feito. Respondeu a voz, agora calma e singela. Você fez bem.

Talvez. Mas e agora terei de fugir. Não quero ser castigado de novo. Pensou o garoto.

Sim. Eu também não. Respondeu a voz na sua cabeça.

Elliot continuou a corrida até finalmente sair da Ala Leste. A Ala Central do Forte Asa Prateada era ligeiramente mais clara, pois os corredores exibiam vários vitrais coloridos, com diversas formas e desenhos, que traziam para dentro a luz do sol que refugiava em um arco-íris de varias tonalidades.

Começou a caminhar agora mais lentamente. Estava longe de onde havia encontrado os dois e sentia-se mais seguro assim. Mas ele sabia, em seu íntimo, que as conseqüências estavam por vir.

Continuou pelos labirínticos caminhos internos do castelo e desceu uma escada espiral até chegar a um pavilhão comprido. Precisava encontrar um lugar para se esconder e ninguém conhecia o castelo, pelo menos as partes por onde podia transitar, melhor que Elliot, porque havia passado todos os seus oito invernos explorando cada canto da construção. Conhecia os corredores e havia lhes dado nomes para memorizar cada um e onde eles davam. O qual se encontrava, por exemplo, foi-lhe designado como Corredor do Exercito, pois varias estatuas nas formas de guerreiros enfeitavam o lugar.

Enquanto atravessava o Corredor do Exercito, passou pelas sombras estranhamente acusadoras dos antigos cavaleiros reais. Eles erguiam-se altos e imponentes, feitos de barro e argila. Usavam armaduras e armas, como espadas e lanças, completamente feitas de pedra maciça. Quando Elliot passou por todas elas, e sentiu por um momento que elas poderiam estar vivas. E mais que isso, estar observando-o com ar de reprovação. Idiotice minha.

Ele prosseguiu até encontrar uma rachadura que descia pela parede, vindo do teto. No seu fim, quando se encontrava com o solo, uma fenda baixa e estreita abria-se. Elliot abaixou e engatinhou até entrar na fenda. Lá dentro era escuro e mais frio do que era o castelo normalmente. Aranhas, ratos e outras criaturinhas desprezíveis rastejavam pelo chão gélido, fazendo companhia ao garoto.

Ele encostou-se com as costas na parede e respirou fundo.

- Aqui eu estou seguro. Ninguém conhece este lugar. – murmurou pra si mesmo.

Aquele era o seu esconderijo preferido. Nenhum guarda ou qualquer outro homem que conheça bem o Forte Asa Prateada, parecia conhecer a fenda ou tampouco tentar entrar, pois era fechada demais para qualquer pessoa adulta. Por isso, Elliot havia feito de lá, o lugar onde guardava seus itens de valor e se escondia, quando precisava. Fechou os olhos e descansou por algum tempo. Estava assustado ainda, mas o choque havia passado. O tempo pareceu correr muito depressa desde que fugira, como se tudo fosse um sonho esquisito. Novamente passou a mão pelo chão áspero, até encontrar um saco plástico. Ergueu-o e desembrulhou um pedaço de torta de limão que estava lá dentro.

Ainda bem que eu guardei isso aqui. Bem que você disse, irmãozinho. “Sempre tenha comida escondido em algum lugar.”.

Sim, ainda bem que você me escuta, Elliot. Disse a voz em seu pensamento subitamente. Pretende ficar ai até quando?

O garoto hesitou.

Não sei. Não quero ser castigado de novo.

Não podemos ficar ai escondido pra sempre. Ao menos que nós comamos as aranhas e bebamos o sangue dos ratos, irmãozinho. Veio à resposta em tom zombeteiro.

Não vou ficar aqui para sempre! Só tempo o suficiente para tudo isso passar. Uma semana, talvez um mês! Pensou Elliot irritado.

Um mês é muito tempo, irmãozinho. Nunca passamos mais do que algumas horas aqui.

Elliot não respondeu. Estava confuso e mil perguntas vinham a sua cabeça. Talvez pudesse realmente passar um tempo lá dentro, mas não agüentaria ficar mais do que um dia.

De repente, uma idéia surgiu em sua cabeça, como se a resposta estivesse ali o tempo todo e o garoto e ele estivesse ocupado demais refletindo sobre os acontecimentos que não a havia notado. Aquilo parecia ser a solução para muitos problemas.

Porque não fugimos do castelo?

Fugir? Para onde? Respondeu a voz na sua cabeça.

Não sei. Vários barcos saem do Porto Dourado todos os dias. É só entrarmos como ajudantes de marujos ou estafetas, como nas historias. Respondeu Elliot exaltando-se.

A resposta demorou a vir.

Está ficando maluco, irmãozinho? Não duraríamos nem uma quinzena nos mares! Mas, mesmo que chegássemos às terras do outro lado do Mar Glorioso, não sobreviveríamos por muito tempo naquele lugar esquecido pelos deuses! Pare de ser criança e ter idéias absurdas! Você já tem oito anos e papai iria até os infernos atrás de nós dois.

Seu pai. Algion. A grande causa da maior parte dos problemas.

Ele seria o maior culpado se eu fugisse. Queria que ele lamentasse o modo como me trata. Respondeu Elliot.

Ele devia nos dar valor, irmãozinho. Verdade. Ambos sabemos que não somos exatamente o que ele queria que seus filhos fossem. Mas somos melhores, Elliot, melhores de outra forma. Respondeu a voz serenamente.

Sim, somos.

Elliot ficou lá por algum tempo, mas logo o seu traseiro começou a doer, machucado por ficar tanto tempo sentado. Então decidiu sair pelo outro lado da fenda para descansar seu assento e respirar um pouco de ar mais puro, pois dentro da fenda, apesar do frio ser cortante, o ar era escasso e pesado. Então engatinhou por alguns segundos e saiu em outro corredor. Aquele era o Corredor dos Lamentos. Era um local sombrio e tenebroso, onde era possível ouvir os gemidos tristes e melancólicos dos homens presos nas masmorras. Era possível. Mas não naquele dia, pois o silêncio era completo. A Casa do Grifo estava constantemente em guerra com algumas casas menores, como Elliot bem se lembrava, a casa Lardarye, cujo simbolo era um carvalho. Graças as batalhas constantes, sempre havia prisioneiros para se interrogar ou torturar. Mas, na maioria das vezes, os prisioneiros não passavam de pobres cidadãos. Pois a cidade de Disturya, a protegida pelo Forte Asa de Prata, era sempre cheia de ladrões e assaltantes.

O lugar mais barulhento do castelo está tão quieto. Estranho. Pensou Elliot inquieto. Tinha uma sensação ruim sobre aquilo.

Ele olhou para os lados, mas o corredor estendia-se até a escuridão absoluta cobri-lo. Sabia que se seguisse em frente, chegaria à escada que desce para a masmorra. Um ótimo lugar para se esconder. Pensou. Abaixou-se, entrou novamente na fenda e terminou de recolher todos os seus pertences. Uma algema aço e sua chave, dois metros de corda velha e gasta, um giz branco, óleo para lamparina, uma pedra de fogo, uma sacola de couro de vaca amarelado e cinco moedas de prata.

Colocou quase tudo dentro da sacola de couro, menos a corda, que enrolou em torno da cintura e começou a caminhar apressado pelo corredor.

O castelo estava repleto de cavaleiros, tanto da casa Griffon quanto da casa Rosewind, isso por que naquela noite, era a terceira das cinco festas de casamento de Lady Ilyin Rosewind e Lorde Sangar Griffon. Elliot sabia que Lady Illyin havia vindo para o Forte Asa Prateada escoltada por metade da guarda real de seu castelo e trazido mais três dúzias de escravos e empregados que vagavam pelo castelo como fantasmas. Era um evento importantíssimo para a nobreza dos dois reinos e selava um acordo de aliança significativo, o que era muito precioso em dias como aqueles. Dias escuros. Elliot sabia que Lorde Sangar havia unido o útil ao agradável com aquela união, pois Lady Ilyin não era nem um pouco feia e sua força política e militar se tornaria muito mais significativa.

Elliot estava com medo de encontrar um desses cavaleiros ou servos dos Rosewind e por isso andava cautelosamente e tentando fazer o mínimo de barulho possível, apesar do eco no corredor ser alto.

Após chegar ao fim do caminho, encontrou a escada das masmorras que descia em uma profunda abertura escura entre as pedras de mármore. Quando se posicionou próximo a descida, observando a escuridão, suas narinas se encheram de um odor terrivelmente forte de carne podre. Fazendo uma careta, Elliot colocou a mão sobre a superfície irregular da parede e começou a descer vagarosamente a escada, apalpando o muro ao seu lado.

O odor de carne em decomposição subia da escuridão e dava a Elliot, inúmeras náuseas e outras sensações desconfortáveis. O ar ali dentro era quente e abafado, parado e misturado com podridão.

Quando a escada acabou, Eliot deu por si sobre o piso de um enorme salão negro, cheio de pilares postados simetricamente pelo chão e se erguendo em direção a uma escuridão profunda, onde deveria haver o teto. O cheiro piorara de tal forma, que o garoto sentia seu estomago revirar, e vez ou outra, um liquido quente subia até sua garganta, mas ele o engolia de volta.

Está tudo bem, irmãozinho? Perguntou a familiar voz em sua mente.

Tudo. Respondeu irritado. Tudo ótimo. Agora preciso arrumar um lugar pra me esconder.

O salão se dividia em vários corredores abarrotados de celas pequenas e úmidas que percorriam o subterrâneo do castelo e desciam cada vez mais, como diziam as historias, até as entranhas da terra.

A masmorra estava quieta por um silencio incólume e, até certo ponto, suspeito. O único som vinha do crepitar da chama nos archotes, que com seu brilho alaranjado, davam um aspecto sinistro ao local.

Elliot avançou pelo salão e entrou em um corredor estreito e comprido, onde havia apenas duas tochas acesas e algumas celas dispersas em fendas na rocha, como grutas fechadas por barras de ferro. O garoto passou pelas celas tentando não fazer qualquer barulho, pois seu pai sempre lhe dizia para não descer ali, pois as masmorras eram cheias de criaturas ruins.

Seus passos eram leves, mas mesmo assim ecoavam fracamente pelo corredor. Ecoavam, pois pararam quando um som de natureza desconhecida chegou aos ouvidos de Elliot. Algo estava tossindo secamente em uma das celas. Uma respiração ofegante e forte veio em seguida, e logo depois, foi a vez de uma voz cansada.

- Tem alguém ai? – dizia ela.

Elliot ficou paralisado de medo. Temeu que fosse alguma das criaturas da noite que eu pai tanto lhe falou, a julgar pelo tom da voz, que era grave e seca ao mesmo tempo. Preciso sair daqui! Pensou, dando um passo para trás. Sentiu o suor escorrer pelas suas têmporas e, em um momento que pareceu durar horas, percebeu cinco dedos calejados se fechando em volta de seu antebraço. A mão puxou-o fortemente contra as barras da cela, fazendo-o se desequilibrar e bater o rosto no aço frio, trazendo-lhe o gosto de sangue para a boca. Tentou gritar, mas outra mão veio e tampou-lhe a boca.

- Ouça, idiotinha. – começou a mesma voz de antes, mas agora ela sussurrava ao pé do seu ouvido enquanto tentava, em vão, se libertar. – Não sei que brincadeira tola estava fazendo para vir parar aqui, mas vou lhe avisar. Se não fizer exatamente o que eu mandar, saio daqui e lhe corto a garganta.

Enquanto falava, a mão que segurava o braço de Elliot desceu e abraçou-o em torno dos ombros. Já a mão que tampava sua boca, escorregou em torno do seu pescoço, onde os grossos dedos do prisioneiro se fecharam e apertaram.

- Está me ouvindo ou já se mijou todo? – disse o homem antes de soltar um risinho baixo e debochado. – Bom. Você vai sair daqui e roubar a chave do carcereiro. Não sei como vai fazer isso, mas vai fazer. Porque se não fizer, juro por todos os deuses que arranco seus olhos com uma colher.

Elliot estremeceu, tentou se livrar novamente do sujeito que o segurava balançando seu corpo freneticamente, mas o homem puxou-o contra a grade novamente. O impacto deixou-o desnorteado, mas teve forças para agarrar a mão que o segurava e enterrar suas unhas na pele do homem. Sentiu o sangue quente borbulhar enquanto os dedos fechavam-se cada vez com mais força em torno de seu pescoço. Agora já não podia respirar, precisava pensar no que fazer, pois do jeito que os acontecimentos se seguiam, ia acabar morrendo.

- Morra, filho duma puta! Eu ia deixar você viver, juro que ia!

Enfiou as mãos trêmulas dentro da saca de couro que carregava presa ao cinto e encontrou a chave de sua algema. Segurou-a com força, já sentindo tontura por não conseguir respirar, e enfiou na mão que o asfixiava. Os dedos largaram seu pescoço instantaneamente, junto com o berro de agonia que veio do sujeito, mas a chave se soltou dos dedos de Elliot quando o homem puxou o braço e caiu dentro da cela.

Tudo bem, a chave não vai funcionar ali mesmo. Pensou enquanto andava de costas, assustado, em direção a parede da outra extremidade do corredor.

- Sabe por que eu fui preso aqui, fedelho? – disse a voz um pouco mais rouca e agoniada. Quando percebeu que o garoto não responderia, ela própria respondeu. – Eu arrombava fechaduras com grampos e roubava as casas.

Elliot ouviu o som de metal se batendo quando um braço se fechou em volta do pescoço dele e puxando suas costas contra as barras da cela de trás.

- Peguei! – disse outra voz, igualmente grave.

O garoto sentiu a massa de carne que carregava atrás da orelha raspar nas barras de ferro. Um som de metal rangendo vinha da cela a frente. Estava escuro demais para ver o que acontecia lá dentro, mesmo com uma tocha ao seu lado. Uma tocha...

Quando o metal a sua frente fez o barulho de engrenagem girando, ouviu-se um estampido alto. CLANC. A porta de aço da cela então rangeu e se abriu vagarosamente. De dentro da penumbra, uma figura grotesca foi iluminada pelo fogo do archote. Um homem alto, de ombros largos e braços peludos saiu de dentro da cela. Seu rosto era deformado, cheio de cicatrizes e bolhas, marcas de queimaduras. Era completamente calvo, mas uma espessa barba cobria seu queixo.

O sujeito caminhou na direção de Elliot e rosnou por trás de um sorriso malicioso.

- Não deveria brincar tão longe da saia da mamãe.

Então o garoto estendeu a mão até a tocha e conseguiu segura-la, mesmo que segundo seus calculos, a distancia era muita para tal proeza. Quando sentiu a madeira quente entre os dedos, enfiou o archote sobre sua cabeça, dentro da cela. Ouviu um gemido e o braço o largou. Quando olhou para o homem a sua frente, ele estava parado com o braço no ar, pronto para dar um soco, mas não o fez. Talvez tivesse se assustado com a aparencia de Elliot, mas este não se importou. Aproveitou o momento para arremessar a tocha no rosto do homem e correr como nunca havia corrido na sua vida.

O sujeito calvo tentou agarra-lo com o braço, mas Elliot esquivou-se e disparou pelo corredor. Nem teve tempo de perceber que havia queimado sua mão. Apenas correu em direção a escuridão a frente. Via as chamas dos archotes passando rapidamente quando tropeçou em alguma coisa. Caiu desajeitadamente sobre o chão de pedra fria e bateu o queixo contra um degrau. Deu-se por si completamente mole, rolando escadas. Rolou por um bom tempo até bater o rosto contra o chão.

Tentou se levantar, mas sentiu uma forte dor. Acho que machuquei na queda... preciso sair daqui... ele vai arrancar meus olhos com uma colher... Sentiu uma pontada no joelho e perdeu a força, desabando sobre o chão. Irmão, preciso correr... onde está você? Mas a resposta não vinha. Sentiu-se só como não se sentia a anos. Apoiou a mão na parede e usou-a como apoio para se erguer, então percebeu um corte entre os dedos. Não se prendeu a isso e começou a cambalear pela escuridão. Não via praticamente nada e só conseguia sentir dores e mais dores por todo o corpo. Até o cheiro horrivel o havia deixado.

- Estou chegando! – ouviu a conhecida voz vindo de algum lugar muito alto.

Continuou caminhando na escuridão, apesar das dores insuportaveis, até que ouviu um som. Uma doce melodia cresceu em meio aquela penumbra, o som calmo e singelo de algum instrumento de sopro que não conseguiu identificar. As notas tocavam uma musica triste e de aspecto melancólico.

Elliot começou a seguir o som com os ouvidos e, apesar de todas as perturbações e impecilios, conseguia ouvi-la claramente e apreciar sua beleza a cada nota. A melodia tornava-se cada vez mais alta enquanto avançava e, mesmo com o joelho machucado, soltou-se da parede e começou a caminhar mancando no breu da masmorra.

Mas o som parou de repente e Elliot só pode ouvir uma coisa.

- Te achei.

Um forte impacto acertou-lhe o lado do rosto, fazendo-o perder o equilibrio sobre a perna boa e desabar no chão. Sentia os ossos doendo, mas tentou se leantar. Abriu os braços e tentou se erguer, mas sentiu o pé do homem acertando-o nas costelas. Sentiu a força deixando seu corpo lentamente. Outro chute acertou-o no mesmo local enquanto ouvia a voz.

- Seu desgraçadinho, vou te fazer em pedaços e te estuprar depois.

Outro chute e nesse momento já havia desistido de lutar. A dor que sentia só se intensificou, até começar a sentir uma faisca de calor crescendo desde o seu peito até a ponta dos dedos.

No artico

Um potente vendaval soprava na escuridão da noite, carregando consigo alguns e dispersos flocos de neve, que anunciavam a vinda de uma tempestade. Uma tempestade de neve. Ótimo. Disse um homem ao sair de sua pequena casa de concreto para a imensidão incólume e branca das planícies do ártico. Ele era um sujeito novo para sua aparência, de trinta e dois anos, cabelos negros rareando sobre o topo da cabeça, barba sempre cheia no rosto e olhos frios, de um azul profundo. Vestia uma enorme jaqueta vermelha, com o capuz sobre a cabeça e óculos de proteção nos olhos.

O homem era Alexander Patrick, um físico e cientista moderno, conhecido como uma das mentes mais brilhantes do século vinte e um. Estava no ártico a estudo, com sua equipe composta por dez homens e sua esposa Megan, tentando encontrar um estranho meteorito que havia atingido uma das calotas polares da área.

Alexander deu alguns passos para fora da casa, usando suas botas de rede na sola, e esperou o sol se por. Assistir a isso se tornou habito desde que chegara ao ártico. Lá, o espetáculo era formidável.

Após o sol emergir no horizonte e clarear a planície, Alexander olhou para cima, limpando os flocos de neve que se chocava contra seu rosto usando as costas de sua mão, protegida por uma grossa luva de lã cinzenta. Analisou as nuvens no céu pálido e cinzento. Neve, muita neve hoje.

- Sempre acordando antes do amanhecer, Alex. Isso vai te deixar com olheiras! – era a voz Megan as suas costas, aquela voz sempre tão doce.

Alexander virou-se e percebeu que ela já estava pronta.

- Me casei com a mulher certa, graças a deus que você não demora duas horas pra se arrumar. – disse ele abrindo um sorriso. – e, pare de se comportar como a minha mãe!

A mulher também usava o capuz da jaqueta sobre a cabeça, escondendo seus densos cabelos castanhos. Megan era admiravelmente bela, pelo menos para Alexander. Sua pele era branca como a neve sobre a qual pisavam, mas tinha os lábios naturalmente vermelhos. Já seus olhos, eram esverdeados e grandes, sob os óculos de proteção.