terça-feira, 21 de junho de 2011

Fantasia.

em asas de fogo, comprometa a sanidade
leve e solitario, carregado pelo vento
agora que fui abandonado pela gravidade
um mundo de fracasso em desmoronamento

deixe o futuro alimentar a fogueira
eis o portal para longe da solidão
em um toque, medos fujam esgotados
sonhe acordado, não pereça em preocupação

toda razão será o preço para escapar
apague a linha que separa a genilidade
ultrapasse os principios imorais
deixe para trás, alcance a imortalidade

veja o mundo com outros olhos novamente
inocencia é a chave para a fantasia
percorra o caminho, veja novas cores
sussurro infinito, encontre beleza na poesia


quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prologo.

Após a tempestade não existe retorno
e sozinho atravessou a escuridão
no esquecimento procurou repouso
sobre ele será entoada a canção

onde a vida veste mantos escuros
o frio espera paciente a madrugada
circulo envolvido pelo vinho
serão ouvidas as historias contadas

de pé se mantém e o silencio é intenso
o sangue misturado as lagrimas choradas
memórias despertam o sonho vivido
e o medo dança entre as pessoas chocadas

o mau revelado frente a todos
a noite traz novamente longos rugidos
sussurros de tensão no escuro recordam
sozinho o terceiro silencio havia partido

no caminho escuro sob as estrelas
a fogueira em um lamento resiste
criaturas emergem das profundezas
em meio ao perigo não desiste

quando a dor está arranhando seu corpo
como espinhos grossos de uma rosa morta
o viajante é visto em meio ao inferno
aos poucos o sono forçado o conforta

começava a pairar no horizonte distante
a luz de uma manhã nova e clara
o viajante se vê feliz de estar perdido
o lugar em que desejava ir contemplava

é dificil soprar esses fragmentos
e mostrar para todos quem é realmente
seu nome dito e sobre ele o poder exercido
uma faísca pode causar um acidente

ventos estão uivando seu canto ao oeste
luz trazida pela insegurança revelam o cronista
pode ser uma queda fatal no simbolico
peça logo antes que a fala resista

frente a frente com o demônio encarnado
transparência no rosto impossível de dizer
a voz e o sussurro no proprio desejo
uma historia sobre ele queria escrever


Primeiro dia.

Sobre as colinas banhadas pela chuva
inocencia como as estrelas sobre os caminhos
o carrasco está aqui para mostrar novamente
as almas purificadas, os pecados esquecidos

dias escuros vindo com rosto escondido
que carrega para longe as ilusões vividas
para o abismo as testemunhas eram levadas
e suas razões frageis seriam perdidas

intenso como a cor das folhas de outono
o fogo graciosamente brinca com a criança
junto a olhos brilhantes e esperançosos
o som entre seu coração dança

dedos ageis que trazem canções a fogueira
renovam os corações exaustos
as arvores param de balançar, as folhas de cair
os antigos contos serão lembrados

sentimento perdido, mas não esquecido
viajando lentamente e trazendo alegria
pelos vales com teatro musica e dança
o medo nos olhos para sempre partiria

profundo no coração penetrou como uma lamina
o nome do vento foi ouvido e clamado
a chama brilha e espanta a sombra
e um novo desejo foi encontrado



quarta-feira, 15 de junho de 2011

Peter Pan.

Venha testemunhar meu julgamento
eu sinto, seu lamento me desperta
acompanhe o espirito inocente
traga sonhos a essa mente deserta

encontre-me vagando pela noite
enquanto sua alma palida adormece
deixe que a minha sombra lhe guie
para longe deste mundo que padece

segure minha mão e voe comigo
o seu futuro se tornará destino
sacrifique a tortura e enfrente
para a terra do nunca terá partido


Donzela.

Encontre a estrada de volta
ó minha donzela das lagrimas
traga novamente meus sonhos
a esse velho livro sem paginas

gostaria de chama-la pelo nome
lembranças queimam a mente
traga novamente meus sonhos
gênesis tortura a semente

luxuria e amor.

cale-se e escute a voz no ar
no passado, as ruinas foram adoradas
nas profundezas, a senhora adormece
pelo vento, suas palavras são sussurradas

chamando meu nome, levando a tensão
o desejo é uma luxuria na madrugada
levando o beijo devolta para a realidade
um risco pela vida antiga relembrada

nenhum calor jamais me atingiu
para você eu sempre fui um estranho
partirei hoje, não me acompanhe
estrada de tristeza sem tamanho

diga adeus a vida sem amores
sem lamentos, o fim escontrado
nós estamos juntos agora
meu caminho não deve ser traçado

Batalha e tormento.

Não feche os olhos para o passado
Não negligencie o sangue derramado
Leve-me embora, impetuosidade
No coração, morte é o unico clamado

Sobre os campos, o desafio é feito
aproxima-se novamente o grito perdido
abandonado no estério e antigo paraíso
aos fragmentos, o temor correspondido

feroz é a cobiça que perece
manchado o verde com vermelho
pinta o singelo olhar do soldado
triste, eterno será o seu conselho

"contemple o fim da sua aflição
e sinta-se feliz por estar fadado
o sono eterno é o que te espera
que o inferno sua alma tenha encontrado"

doce infecção espreita ao bater de asas
através do vento o odor pútrido dançava
onde a morte, em mantos claros galopa
pelo frio do ferro, sua gadanha chorava

quais cores brilham em seus olhos
tire-me dessa tempestade de incertezas
sombras cantam um maldito sussurro
mostre a esse cego como enxergar a beleza

A tormenta estremece o choro
ouvido entre a angustia e tensão
insanidade e cegueira fazem parte da queda
Sobre herois será entoada a canção

Aproximando.

Não é facil vislumbar o medo
sua silhueta sempre presente
não deixe-me no caminho sozinho
acorde e aproxime-se, sou inocente


terça-feira, 14 de junho de 2011

Buscas.

eu percebia o quanto a ferida sofria
quando a noite chegava e eu chorava em dor
o sangue azul escorrendo pelo rosto
eu só queria um dia sentir o sabor

eu procurei por respostas em todos os lugares
mas as memórias eram a verdade
havia acabado e não havia volta
morreu comigo toda a fragilidade

Canções.

Entre as arvores do campo oeste
o astuto elfo senta-se com sua harpa e flauta
entoando musicas sob o ceu celeste
com o coração e mente focados na pauta

com o sol quente aquecendo seu rosto
e o vento chorando com desgosto
em um lago de beleza cristalina
a canção sobre o coração desperta a dor

tomando o caminho na estrada distante
a trilha parece não terminar
extendida ao infinito horizonte
impossivel minha mente se acalmar

De Fingolfin.

Fogo exalava de toda aquela amada terra
sozinho cavalgando atravez desse novo inferno
medo e choro cobria os céus com um manto negro
estava a seu povo fadada ao esquecimento eterno

com ódio no coração atravessou o mau sem temor
veloz como só o vento do sul pode ser
espada de luz empunhada resplandeceu na escuridão
e o escudo azul brilhou como o amanhecer

prevalescendo na alma do poderoso heroi
o olhar que mostrava o fogo ardente da vida
proveniente herdado dos membros do seu clã
mente enfurecida e insana pela amarga ferida

irmão do maior e mais poderoso de sua raça
o grande e invencivel rei nas terras do oeste
cheio de cobiça e ódio trouxe a desgraça
mas sua alma permanece clara e celeste

a loucura corrompeu seus sentimentos calmos
lembrando o medo que o fez partir
ele não podia proteger seus amigos do mau
o pesar no coração e medo de sua raça ruir

criaturas profanas e escuras causando destruição
o ataque do senhor do norte havia começado
grande inimigo, rei negro do mundo
estava perdido e nenhum aliado preparado

as montanhas choravam rios de lava e fogo
o belo campo tornou-se um deserto sem vida
novamente estavam com medo e pesar
a batalha era a unica saida

ao final da batalha chegou até ele o medo
sem nenhum companheiro ao seu lado a cavalo saiu
o ódio em seu olhar era insuperavel
e toda a criatura assolando a região, em pavor fugiu

chegou sem segredo na prisão de ferro
antiga fortaleza do onde apenas medo se podia sentir
uma terra onde o mau dançava sob muitas formas
um lugar onde o tempo parecia não existir

parou em frente ao grande portão de bronze
em seu coração a esperança se misturava com insanidade
precisava acabar com todo aquele terror crescente
assim desafiou o grande inimigo ao combate

soou a trombeta do rei com um rugido estridente
lorde negro em seu trono estremeceu em tensão
alguns dizem que mesmo sendo experiente
sentiu pavor em seu amargo coração

o ser mais poderoso a andar sobre a terra
conhecia muito bem o chamado medo
tinha de fazer alguma coisa perante seus subordinados
teria de acabar com esse problema cedo

o som da trompa se espalhava pelo norte
foi a ultima vez naqueles tempos
que de seu trono levantou-se lentamente
o inimigo saiu para fora de seus aposentos

o senhor do escuro subiu das profundezas de seu castelo
chamado em voz alta de senhor de escravos e covarde
o rei não sentiu medo ao som do inimigo se aproximando
se fosse fugir, já era tarde

os passos na prisão ecoavam poderosos como trovões
em meio a tempestade rangindo na fortaleza
ouvidos em todo o mundo, passos com pesar e ódio
a espada e a coragem, para o rei, eram a unica defesa

alto como uma torre se erguia perante o rei
cobrindo-lhe inteiramente estava uma armadura escura
em sua mão estava Ground, o martelo do submundo
e seu escudo negro não havia brasão de casa alguma

repousava em sua cabeça a famosa coroa de ferro
era declarado por si proprio rei do novo mundo
e nela brilhavam as três gemas do oeste
com sua claridade e luz propria de um branco profundo

frente a frente estavam os dois finalmente
a sombra do inimigo caia negra como uma tempestade
ringil, a espada, foi puxada e resplandeceu como gelo
o rei em meio a escuridão lembrava uma estrela de bondade

brandindo Ground sobre a cabeça
o lorde negro atacou o rei como uma sombra de destruição
mas este era agil como os membros de sua raça
esquivou-se rapidamente sem nenhum arranhão

ao chocar-se com o chão
Ground, feito de ferro negro, abriu uma enorme cavidade
o enorme buraco exalou fogo e lava
em meio a fumaça estava parado o portador da liberdade

sete vezes o inimigo atacou e sete vezes o rei escapou
sete vezes o rei atacou e sete vezes o inimigo rugiu forte
um grito que ecoou por todas as montanhas e colinas do norte
mas o lorde negro não podia encarar a morte

com ódio e exalando um poder imenso levantou o escudo alto
o desceu com força esmagando o rei contra o chão
o portador da esperança levantou-se sentindo a gonia e dor
ainda havia espirito de luta em seu coração

mas isso não era o suficiente para vencer a luta
três vezes o rei foi esmagado contra o chão fervente
e três vezes levantou-se com o escudo quebrado empunhado
o elmo amassado na cabeça, mas o sangue ainda estava quente

cansado do combate, o rei tropeçou em uma das fissuras
caiu ajoelhado pereante o inimigo
que se erguia imponente como uma torre
o mau vencido?

com a força de uma montanha colocou o pé sobre o rei
prensando seu pescoço fortemente contra o solo rochoso
o heroi sacou sua espada brilhante
e encravou no pé do lorde negro em um ato furioso

seu pescoço foi esmagado pelo pé ferido
e o inimigo gemeu alto de dor
cujo mancou eternamente graças ao desafio
e do que sentiu, ele sempre irá lembrar o sabor

Corra.

Em algum lugar dos cinzentos becos da periferia, um garoto movia-se rapidamente correndo entre os corredores escuros. Atrás dele, colados as suas costas, vinham dois perseguidores cobrindo rapidamente o terreno que os separava, seus passos firmes chocavam-se com as poças no chão irregular e acidentado, fazendo a água suja respingar para longe em varias direções.

Acima deles, o céu estava coberto por grades e majestosas nuvens cinzentas, que tornavam o dia escuro, algo que lhe dava um aspecto um tanto triste, algo próprio para o que fato que iria ocorrer naquele fim de tarde. Raios cruzavam o céu constantemente, clareando o escuro caminho que se estendia à frente como faixas de luz e seus trovões altos e estrondosos, ecoavam pelos corredores levantados por grossas paredes de tijolos avermelhados. Grandes gotas de água desciam do céu tempestuoso explodindo quando se encontravam com algum alguma resistência, ocasionalmente, o rosto do fugitivo.

O fugitivo, por ser alto, esguio e ligeiramente magro, conseguia correr muito rápido, algo que os dois homens atrás dele, que possuíam um porte mais robusto, não haviam calculado direito em sua insensatez. Suas pernas, compridas e finas, lhe davam velocidade para correr com grandes passos e impulso para saltar os obstáculos que apareciam ocasionalmente em seu caminho, que muitas vezes não passavam de sacos de lixo, entulho ou até, pequenos animais. Seu rosto pálido e de aparência cansada, com traços e linhas bem definidas, mostrava uma mascara de medo e tensão, que era vislumbrada pelos perseguidores toda vez que ele o virava para trás procurando calcular a distancia. O suor que se misturava com a água da chuva, descia pelo rosto em finas linhas, começando de seus cabelos claros e terminando, por muitas vezes, em seus brilhantes e pequenos olhos claros ou, em raras oportunidades, em sua fina e pequena boca, trazendo-lhe um gosto estranhamente salgado, algo o qual não dava a mínima atenção, não no momento. Sua blusa negra e de um tecido grosso e quente, que em teoria o protegeria do frio, estava completamente encharcada com a água da chuva, seu zíper da frente estava fechado apenas até a metade, onde seu braço, coma manga machada de sangue, entrava por dentro dela e parecia pressionar algum ferimento. Suas calças jeans eram escuras e desciam até o par de tênis, que já não lhe oferecia qualquer proteção contra a água da chuva que estava na rua em poças ou correndo pelas extremidades, molhando sua meia e lhe causando muito frio, mas, isso não importava, só precisava continuar correndo até estar a salvo, até deixar os dois homens para trás e estar no conforto da sua casa, poder ver seus pais novamente, poder conversar com ela...

Atrás dele, a dupla de perseguidores vinha a toda velocidade, um era alto e robusto, de ombros largos e braços grandes, pele de cor escura e um sorriso malicioso cobrindo o rosto. O outro era menor, de cabelo escuro e curto, pele clara e um olhar ameaçador. O grande perigo para o garoto que corria desesperadamente pela sua vida estava no par de grossas e brilhantes facas que os dois portavam firmemente nas mãos. A que o garoto menor segurava, reluzia uma mancha avermelhada.

Após alguns minutos de corrida frenética, o fino solado do tênis do fugitivo não lhe deu proteção contra um grande prego enferrujado que estava preso a um pedaço de madeira velho, cujo repousava no chão. Ele penetrou pela borracha e cravou-se profundamente no pé do garoto, que sentiu a aguda dor do ferro rasgando sua carne. Em vão, tentou dar mais um passo, porém, o prego não se soltou de seu pé e o pedaço de madeira ao qual ficou preso por conseqüência, continuou lá, fazendo sua perna fraquejar perante a dor e perder o apoio que deveria dar. Por fim, tombou para frente em um baque surdo que ecoou mais alto que qualquer trovão, pelo menos para ele. Seu rosto chocou-se de frente com o concreto frio e molhado.

A dor de seu dente rachando-se contra o chão foi forte, a dor do prego enferrujado dentro de seu pé era muito forte, mas nada se comparava com o medo que tomou conta de cada célula do seu corpo quando percebeu que caminho tudo isso estava tomando, talvez um caminho sem volta.

Seu corpo tremia muito, mas não sabia se era por causa do medo ou do frio, virou-se para a direção de onde veio e observou o semblante escuro dos dois homens aproximando-se e entrando em seu campo de visão, graças a uma fraca lâmpada que pendurava na parede mais próxima. Com a mão direita, puxou o pedaço de madeira com força e conseguiu tirar junto o prego que lhe causava tanta dor, depois, atirou-o para o lado com força.

A cada passo que a dupla dava, o garoto sentia um pedaço de esperança sendo quebrado bem a sua frente. Uma sensação terrível tomou-o por completo, um medo absurdo de que talvez não pudesse sair daquela situação com vida, algo impossível de ignorar.

O vento gélido soprava forte e o garoto sentiu seu corpo estremecer em espasmos de calafrios, seu peito queimava como brasa graças ao ferimento que o haviam causado há alguns minutos atrás, antes da fuga. A respiração arfante vinha em grandes impulsos de ar, que eram puxados com força, o ar frio entrava em seus pulmões queimando-o fracamente, mas, causando grande incomodo. Usado o resto de força que lhe restava, que não era muito graças à corrida, colocou os dois pés no chão, a dor subiu pelo pé perfurado, mas não se importou. Com um fraco gemido, escorou-se em uma parede com as mãos, usando-a de apoio e pôs-se de pé com dificuldade. Depois, ficou frente aos dois homens que haviam parado a poucos metros dele e os fitou com um olhar firme, um olhar brilhante que entre a escuridão, dançou maliciosamente estudando os dois. Eles o observavam firmemente também, mas, com menos cautela, graças à vantagem numérica e por estarem armados, esbaldavam a confiança que possuíam, talvez, a única vantagem do fugitivo.

O garoto não saberia dizer quanto tempo ficaram parados ali com os olhares se encontrando, também não sabia dizer o que passou pela sua cabeça naquele momento, mas, por um momento, pensou ter ouvido uma voz, uma voz vindo de longe, quase como um sussurro inaudível em meio ao fraco assobio do vento gelado que atravessava o corredor.

Uma gota desceu com força dos céus, e, por obra de um cruel destino, caiu em seu olho esquerdo. No exato momento em que piscou para limpar a visão que se tornou embaçada por alguns segundos, os dois atacantes vieram em sua direção em uma rápida investida atravessando o corredor em poucos e compridos passos, e logo, o espaço entre eles parecia ter diminuído em um instante. Antes que pudesse pensar em como ia defender, um punho fechado veio em uma velocidade absurda e acertou-o no lado da cabeça, acima da orelha, empurrando-o para trás. Sua visão embaçou por causa do choque, mas, antes que pudesse revidar, outro soco acertou seu rosto, dessa vez, vindo do outro homem. Seu nariz espirrou um curto jato de sangue vermelho, causando uma dor alucinante que o deixou atordoado por alguns instantes, algo que poderia decidir o futuro da briga. Deu alguns passos para trás procurando ganhar tempo para recobrar os sentidos, mas, sentiu uma pontada de dor queimar-lhe o abdômen e sentiu algo quente escorrer pela sua pele e descer pela barriga em uma linha.

Um frio insuportável inundou seu corpo cobrindo-o de ponta a ponta e penetrando até os ossos. Atordoado e com muita dor, jogou as costas contra a parede em um pequeno e violento salto. Seus dedos tremiam muito, mas, mesmo assim, colocou a mão por dentro da abertura da blusa encontrando no novo ferimento, mais profundo e mais dolorido que o primeiro. Ao puxar a mão de dentro da blusa, viu que ela estava encharcada de sangue fresco, observou-a incrédulo e voltou-se para os dois homens que assistiam a tudo.

Com uma explosão de energia, causada pela dor e desespero, partiu em fúria na direção do homem que estava mais perto, que se assustou e não conseguiu reagir, sem emitir qualquer barulho. O punho fechado do garoto acertou-o no rosto com força, fazendo o homem dar um passo para trás, logo depois, sem perder tempo, outro golpe acertou o homem de pele escura com força, dessa vez, na boca do estomago, fazendo o corpo dele inclinar-se para frente tentando suportar a dor. Um gemido saiu de sua boca como se tentasse esconder isso do companheiro, que observava tudo sem reagir, talvez por choque do ataque violento e instantâneo, talvez por analisar o homem que vinha com ele e suas ações, talvez até por sentir medo.

O homem, agora ferido, investiu para cima do garoto com um grave urro de raiva, porém, isso não intimidou o garoto, que se abaixou rapidamente desviando do soco que tinha seu rosto como destino, depois, com um ágil movimento, virou-se de costas para o atacante dando um rápido giro, com o impulso que havia ganhado, levantou a perna e chutou-o nas costelas. O homem soltou um grito muito agudo, colocou a mão sobre a costela que havia sido golpeada e deu alguns passos para trás.

O momento heróico durou pouco, o homem que esteve apenas observando tudo, em um golpe rápido, acertou o punho fechado nas costas do garoto, fazendo-o perder a força e, nesse momento, enrolou os braços em torno dos dele, enroscando-se como uma cobra, deixando o garoto virado para o homem que havia acabado de golpear, mas agora, estava indefeso.

- Segure-o bem, não vou ter dó desse filho da puta! – grunhiu com raiva o homem parado a frente do garoto, uma linha de saliva escorreu da sua boca, mas ele pouco se importou.

- To fazendo isso, anda logo e acaba com ele! – berrou o homem mais alto, que segurava o garoto.

Ao se aproximar do menino, deu-lhe um soco com muita força na boca do estomago, fazendo-o inclinar-se para frente. O ar que foi respirado com muita dificuldade no segundo anterior, deixou os pulmões do garoto, que, sem ar, só não desabou no chão porque estava preso.

- Ta gostando? – perguntou ironicamente o sujeito aproximando o rosto do rosto do garoto preso. – eu posso fazer a dor parar se você quiser. – terminou fechando a mão envolta do ombro direito dele e, com um pequeno impulso, acertou-o no estomago novamente, agora, com uma forte joelhada.

- Ele não está nem gemendo, acerta ele com mais forçam porra! – disse o homem que o segurava com o tom de voz cada vez mais alto.

Novamente, o garoto foi golpeado, dessa vez, um forte cruzado encontrou seu olho esquerdo.

- Eu to acertando ele com toda a minha força, vai ver, o viadinho já desmaiou. – respondeu o sujeito observando o garoto que parecia não ter forças nem para continuar de pé.

Um abafado e curto riso veio do garoto.

- Você não vai conseguir me fazer gemer do mesmo jeito que a sua mãe gemeu ontem à noite. – disse com desdém na voz, levantando a cabeça e olhando para o homem parado na sua frente. Seus olhos esverdeados, agora não tinham nenhum brilho e seu rosto pálido lhe deu uma aparência estranhamente sombria.

Julgar.

Aquele ato, tão chocante para a sociedade que olhava apreensiva com seus olhos incriminadores o homem ferido ser algemado e escoltado até a viatura, podia ser visto de um milhão de perspectivas. Algo estranho de se imaginar, realmente, é impossível entender de todos os modos se você esteve presente, se você vive e tem uma parcela, mesmo que mínima, de vivencia.

Um homem, horas atrás, andava em passos rápidos em direção a uma pequena padaria. A arma na sua mão cintilava em um brilho frio de aço, um brilho mortal. Seu olhar firme escondia, como uma mascara, os pensamentos que lhe levaram ao tal ato, os medos que a reflexão sobre o estado em que se encontrava lhe condenavam, mas aquilo precisava ser feito.

Sua mãe estava muito doente e só seguia com vida pois alguns aparelhos faziam o serviço que vários órgãos precisavam fazer, mas para que eles continuassem funcionando, precisava de dinheiro. Ninguém via assim, ele cometeu um assassinato e era só isso que a sociedade enxergava, ou parecia enxergar, ou se obrigava a enxergar. Naquele lugar frio e úmido, com a arma na mão ainda soltando fumaça apontada para frente graças ao seu braço imóvel, o homem caído de costas para a parede com um buraco no peito, naquela pequena padaria da periferia, o mundo parecia outro, parecia... parado.

Antes que pudesse reagir, antes que pudesse entender, fora apanhado em uma corrida desesperada pela liberdade, subindo pelos telhados, correndo sobre os muros. Era isso que queria pra si mesmo? Deveria ter pensado melhor.

Agora, estava jogado frente ao futuro pesado que se aproximava. Antes de tudo, poderia apoiar sua mãe até a sua morte e não causa-la.

Lua.

O crepúsculo se aproximava apressado e o limpo céu azul começava a ser manchado por um avermelhado intenso, as poucas nuvens perdiam o foco quando o manto negro da noite cobria a vastidão da visão humana, sua escuridão penetrava na mente do homem como uma faca limpa e brilhante, que refletia com seu aço frio todos os medos que se aproximavam.

Lá, para onde os pássaros não voavam, lá onde as canções não faziam sentido, lá onde as pessoas temiam, lá onde a beleza se perdia. Lá era onde ele morava, na pequena casa de tijolos cinzentos mal pintados, onde um numero prateado estava pregado. Era assim há muito tempo, todos sabiam, era assim desde que começou, desde que fora mordido.

Havia feito calor durante o dia inteiro, o sol lhe deu uma falsa sensação de esperança, mas, com aproximação da noite, ventos frios traziam arrepios ao homem constantemente e com eles, a certeza dos males que ocorreriam.

Seus braços cheios de cortes e rasgos profundos estavam apoiados na borda da janela. Muitas cicatrizes clareavam a pele pouco bronzeada e mais dores do que podia suportar eram trazidas a sua mente cada vez que as fitava.

Puxou o vidro da janela com força e o barulho ecoou pelo quarto semi-vazio e mal iluminado dando um aspecto de solidão inexorável.

- Ela já deve estar longe. – Resmungou o homem a si mesmo com sua voz grave.

Falar sozinho era costume quando dias assim chegavam, era como ter um amigo invisível, a solidão parecia menos depressiva.

Caminhou em passos lentos e arrastados até o banheiro no outro lado do aposento, abriu a porta, que rangeu alto preenchendo o silencio que inundava o local.

Vários cacos de espelho estavam caídos no chão em diversos formatos, o resto do objeto na parede estava com varias rachaduras e marcas de sangue pintando as formas retas formadas em sua superfície. O homem, ao entrar no banheiro pisou com seus pés descalços em alguns cacos, que penetraram fundo como espinhos de roseira, mas, pouca atenção lhes foi dada. Ele parou frente ao resto do espelho quebrado pendurado na janela e fitou-o. Fez uma careta de indignação.

- Nunca fui um homem bonito, mas, ando um lixo! – comentou consigo mesmo passando a mão calejada pelo rosto e dando uma boa olhada em sua barba que crescia como grama no verão. – preciso voltar a me cuidar, não sei como a Amélia ainda gosta de mim... – terminou.

Inclinando um pouco a cabeça para baixo, fitou a alva pia de porcelana Abriu a torneira e deixou a água fria cair em uma fina linha de água limpa e clara, na qual molhou as mãos e passou-a pelo cabelo ralo e oleoso jogando-o para trás.

Virou-se para a porta e caminhou até a velha cama de casal que praticamente se estendia de parede a parede do quarto. Sentou-se e colocou um pé sobre o joelho, viu os cacos que haviam penetrado no seu pé e ficou surpreso de com o numero, tão poucos. começou a tira-los com os dedos em forma de pinça, quando terminou, olhou novamente para a janela, mas, sem sair do lugar que estava. A noite estava chegando rapidamente, a luz do sol já se dissipara quase que totalmente, levantou e correu em poucos passos na direção a porta, trancou-a e o fez também com o pesado cadeado dourado.

Tudo ia desmoronar novamente, os sentimentos, as lembranças. Era assim sempre que a lua cheia subia, sempre o medo crescia e o maldito cão prevalecia. O único pensamento que o mantinha firme era que Amélia estava a salvo e era isso que importava, ela havia estado com ele e o dava forças para continuar em frente, independente de seus problemas, ambos eram felizes, por isso, perde-la era o seu maior medo, era como perder o único pilar que o sustentava.

Voltou para a cama e deitou-se nela de qualquer jeito.

- Juntos na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. – disse pra si mesmo olhando para os restos da lâmpada no teto que um dia já iluminara o local. – quem ia acreditar nisso? Em um voto feito na igreja? – terminou.

Após um riso seco e irônico, voltou os olhos para a janela. A noite chegou. A lua cheia emergiu.

O velho ciclo estava pronto para recomeçar, todo o medo havia ido embora durante os primeiros anos, claro, a ilusão de que um dia poderia ser o homem que fora um dia, já estava enterrada há muito tempo. Os pesadelos dançavam na escuridão como demônios, trazendo pensamentos horríveis a mente do homem, medos escondidos sob uma fina camada de insegurança.

Começou, a dor se alastrou por todas as células do seu corpo queimando como gelo, ardendo como brasa, fazendo seus membros se contorcerem em formas estranhas e irregulares, seus olhos reviraram-se para cima tornando tudo mais escuro do que deveria estar, suas mãos agarraram o lençol rasgado e puxaram-no com força soltando-o das bordas do colchão. Aos poucos, sua forma humana foi sendo alterada e seus traços tornando-se animalescos. Seu nariz começou a esticar e tornar-se um comprido e largo focinho, sua boca sofreu do mesmo mal e seus dentes cresceram rapidamente tornando-se afiados e pontiagudos, como presas. Suas unhas cresceram até tornarem-se cinco pares de afiadas garras negras, que penetraram fundo no colchão rasgando-o em puxões poderosos, suas pernas dobraram-se para trás e esticaram afinando-se, o mesmo aconteceu com seus braços e, aos poucos, pelos cinzentos começaram a crescer por todo o seu corpo em uma velocidade absurda.

Estação.

Minha visão turva pelo sono de uma noite mal dormida é clareada pelas finas gotas de uma garoa fina e cortante que cai gélida sobre o meu rosto palido.
- Devia ter pego uma blusa. - comentei pra mim mesmo movendo apelas os labios, sem emitir qualquer som enquanto colocava a mão no bolso e trocava a musica que eu ouvia em um fone de ouvido.
sempre usei fones de ouvido, em etodos os lugares que eu ia, ele estava comigo. A vida era diferente com eles, uma nova visão de mundo podia ser desenhada na minha cabeça de modo diferente dependendo do som que ecoava pelos meus ouvidos invadindo o cerebro em um forte impulso.
Todas as pessoas daquela velha estação de trem tiveram seus caminhos futuros traçados pelos trilhos de ferro avermelhados pela ferrugem que se estendiam ao longo daquela estrada pavimentada com pequenas pedras.
Aquela massa ou, como gosto de nomear, o pequeno exercito feito de trabalhadores e estudantes com a vida traçada pelos seus superiores, cada um edeles é explocado pela propria terra, a qual são obrigados a amar em um juramento cego, a qual levam a mão ao peiteo em um gesto morbido de falso patriotismo enquanto seus labios cantam o hino.
Presos a trabalhos que odeiam na falsa esperança de um dia serem libertados devido ao seu esforço.
- Doce ilusão. - comentei rispidamente sentindo uma gota cair no meu olho tornando o simples gesto de abrir os olhos, uma ardencia fragil.
Depois da ardencia passar levemente com um forte esfregão dos punhos cerrados, vi uma garota ruiva ao meu lado, dividiamos a mesma estação de trem, o mesmo caminho e futuramente o mesmo vagão.
Será que eu sou como todo mundo? Será que sou realmente unico? Esse medo queima como brasa quente dentro do peito, martela o cerebro repetidamente em uma dor vagarosa e torturante.
O mundo é um lugar horrivel para se viver, somos TODOS controlados e os que pensam ser livres, quando descobrem que são controlados, perdem o controle, ainda bem que eu sempre soube o quão cativo sou.

Batimentos.

- Um já foi! - disse a si mesmo o garoto arrastando o taco pela sala vazia.

O primeiro batimento começou a queimar como carvão quente, sua ex-namorada estava caida na sua frente jogava em uma parede, sentada em uma posição pereturbadora com os olhos vidrados observando os ultimos impulsos de vida deixarem seu corpo.A parede que um dia já foi branca, estava manchada de um vermelho vivo em um desenho sem formas escorrendo com uma gelida sensação de sopro de morte eque beijava sua ferida aberta e borbulhante.
- A segunda também se foi, vadia.
Muitos diziam com sussurros pensativos e tristes que percorriam sua alma como uma corrent eletrica forte lhe dando uma nova força e tornando seus passos tensos, porém, firmes.
- Meu melhor amigo, porra! Não acredito!
Esperou a ultima luz se apagar, estava escondido atrás de um poste, um capuz escondendoe seu rosto como uma sombra e o breu total cbrou a casa como um manto negro de terror ecoando pelo olhar vazio trazendo lagrimas em seu olhar vazio, onde apenas veias saltarvam trazendo uma cor diferente aos seus olhos, vermelho-sangue se misturando a agua e ao sal que congelavam com o vento frio da madrugada. Vermelho-sangue também era o fino traço que escorria de seu nariz fino brilhando como um ultimo rastro de vida.
A loucura havia tomado cada celula do seu corpo em uma insanidade imoral, o taco de madeira clara era segurado com força pela ponta do cabo e era arrastado pela rua, arrombou a porta com um chute violento procurando e farejando o menor sinal de vida, a procura de qualquer som, se tivesse sorte, um gemido de medo.

O segundo batimento começou a queimar como gelo contra a pele.
- Filha da puta, nem pra morrer em paz você serve!
O som da liberdade e satisfação foi arrancada de seus dedos e escorridos pelo ralo morbido e solitário que era a vingança, o medo foi jogado ao vento com um terror destrutivo, as sirenes haviam cercado o local e se misturavam com varios sons de vozes xingando alto com raiva de ter a noite perdida.
O medo finalmente percorreu o corpo do garoto ensanguentado, congelando qualquer energia trazida pelo ato podre, onde o coração palpitava em um ritmo assassino.
- Eles não vão me pegar, não vivo!
Em um gesto rapido, os seus pe´s se moveram com temor correndo pelas suas veias congeladas, se escondeu em um quarto, onde a sua ultima esperança era perdida no labirinto que era a esperança.
Passos no corredor eram perdidos em vão, a arma de madeira empunahda com as duas mãos tremulas sobre a sua cabeça, pronto para derrubar em um unico golpe certeiro, até que a porta foi arrombada com um som alto e rápido que fez seu olhar congelar. O homem entrou no comodo e iluminou com uma lanterna o rosto palido e assustado do garoto. O gatilho foi mais veloz do que o taco.

Vingança.

O gélido vento de uma noite de outono atravessava a rua como um sussurro ríspido e triste, acompanhando-o vinham os últimos olhares nervosos e esperançosos observando o movimento quase morto de suas janelas altas e protegido nos prédios cinzentos e antigos que se estendiam em direção ao céu rasgando-o como a ponta de uma faca.

Em um desses prédios, não no mais bonito e nem no mais feio, morava Edward.

Claro, aos 20 anos, era difícil para ele manter o aposento completamente limpo e arrumado, algumas roupas estavam espalhadas e amassadas no chão do único quarto, sua cama estava desarrumada a dias e sobre ela, um prato jazia com farelos de pão.

Com um estrondo alto que ecoou pelo corredor escuro do andar em que morava, a porta da entrada de seu apartamento abriu chocando-se contra a parede com força e uma rajada de um vento frio invadiu o local.

Edward acordou subitamente de um leve cochilo no sofá, levantou-se e preguiçoso, arrastou os pés pelo chão frio e liso até a porta, fechou-a sem qualquer barulho e voltou seus olhos para o relógio redondo posto na parede. 8:00 horas, sua namorada chegaria as 10:00, havia tempo de sobra para arrumar o local, tomar um belo banho quente e talvez, pedir a sua janta, uma grande pizza.

Foi até o quarto com movimentos lentos e cansados, recolheu o prato e levou-o até a pia, não com mais velocidade do que fez qualquer coisa anteriormente, com sua mão livre, coçou o olho e procurou tirar qualquer tipo de sujeira ou meleca que pudesse assustar a garota.

- Talvez aconteça hoje. – disse a si mesmo enquanto dobrava um cobertor que cheirava a mofo. – Talvez ela até durma aqui, é tarde, não vou deixar ela ir embora sozinha... talvez ela queira transar comigo!

Edward namorava uma garota a quase três meses, ela não era virgem, de forma alguma, mas sempre parou qualquer iniciativa do rapaz com alguma desculpa esfarrapada, isso deixava o Edward nervoso.

- Será que tenho alguma camisinha perdida? – se perguntou enquanto jogava a coberta dobrada sobre a cama. – Faz tempo desde a minha ultima transa, foi com aquela bêbada no banheiro de uma balada. – terminou, sentiu um leve formigamento entre as pernas e sorriu.

Depois de arrumar o pequeno apartamento, olhou novamente para o relógio, quase 9:00 horas. Ele precisava de um banho, sentia um cheiro horrível emanando de todo o seu corpo suado, havia trabalhado até mais tarde naquele dia, recebendo um dinheiro a mais para o dia de hoje. Seu cabelo estava oleoso por causa do muito suor que escorreu enquanto estava no ônibus lotado.

- Nenhuma garota vai sequer olhar pra mim com essa cara. Muito menos chegar perto com esse cheiro de porco suado. – resmungou.

Pego sua toalha estendida em uma pequena cadeira de madeira, onde moravam alguns cupins, colocou-a sobre o ombro, pegou uma muda de roupas dobradas e foi para o banheiro sujo escuro e com um leve cheiro de esgoto.

Ascendeu a luz usando o interruptor ao seu lado e caminhou até a pia em dois passos curtos, colocou a roupa em cima e pendurou a toalha em um gancho de ferro preso a parede, depois, despiu-se, jogou a roupa em um canto no chão e abriu o chuveiro entrando em baixo dele logo em seguida, no começo, a água estava fria, mas logo esquentou seu corpo, fazia frio e a água quente lhe dava novas forças depois de um dia cansativo.

Seu corpo corou enquanto a água lhe esquentava, depois de um tempo, começou a passar o sabonete pelo corpo sem pressa, mas antes de qualquer outra coisa, o chuveiro deu um forte estalo e uma luz ascendeu em um fio verde que ficava para fora da parede, em seguida a água deixou de ser quente e tornou-se muito gelada e Edward estremeceu e resmungou.

- Cacete de chuveiro velho!

Desligou o chuveiro o mais rápido que pode e estendeu o braço a procura da toalha, não encontrou, olhou para o gancho de ferro e ele estava vazio.

Pegou a toalha de rosto na pia, pensativo e começou a secar seu corpo magro com aquele pedaço de pano minúsculo, colocou o short, mas antes que pudesse vestir a camiseta que havia pego, ouviu um barulho alto vindo da sala, como de um vidro se estilhaçando.

Abriu a porta e olhou, a sala, cuja estava escura e se perguntou se havia desligado a luz, quando ouviu um barulho vindo do quarto.

Ladrões, pensou na mesma hora.

Fechou a porta do banheiro e fechou o trinco, quem quer que fosse, não iria o levar embora, talvez fosse alguém vindo atrás dele por causa do seu passado estranho.

Apagou a luz do banheiro de modo que a única claridade no aposento vinha da pequena janela no alto do lugar, parou de frente para a pia e jogou a cabeça para trás com os olhos fechados, abriu a torneira de modo que uma fina linha de água caia na pia, molhou as mãos e molhou o rosto em seguida tentando por os pensamentos em ordem.

- Acho que estou ficando paranóico. – disse ele olhando para o espelho. – talvez tudo isso seja coisa da minha... – parou, quando fitou o espelho com cuidado.

Uma mancha vermelho-escuro pintava seu rosto com uma grossa camada, olhou para as mãos e elas também estavam com essa cor, deu um grito alto e olhou para a pia, o que antes era água que saia da torneira, parecia... sangue.

Limpou o rosto com a camiseta que estava perto e saiu do banheiro, atravessou a sala com os punhos cerrados e passos longos e firmes até que sentiu algo penetrando na sola de seu pé descalço, com um gemido abaixou-se e viu um fino caco de vidro rasgando sua carne, arrancou-o e percebeu quando olhou para cima, a luz estava apagada porque a lâmpada havia explodido.Riu para si mesmo.

- Que idiota que eu sou. – pensou pondo a mão no rosto.

Mas, a mancha de sangue na mão era real, fazia muito tempo que não usava qualquer tipo de droga, havia parado com isso e não iria voltar. Após resmungar, ouviu um barulho estranho vindo de seu quarto.

- São só alucinações, não tem nada lá. – repitiu pra si mesmo algumas vezes enquanto ia em direção a mesa.

Pegou a faca que estava lá em cima, empunhou-a com força e foi em direção ao quarto, cujo a porta estava fechada. Eu não a fechei, pensou.

Abriu a porta de madeira fina lentamente, fazendo mais barulho do que esperava, não havia nada lá, nada anormal. Suspirou aliviado.

Virou-se para a sala, e então, seu coração saltou forte. Na parede havia uma mancha enorme de sangue, de quase dois metros se estendendo horizontalmente, como se uma mão sangrando tivesse passado por ela, ele conseguiu perceber algo parecido com dedos no final da linha, colocou a mão na boca e esfregou os olhos, ela ainda continuava lá.

Correu em direção ao telefone, que estava sobre um balcão e começou a discar o numero da sua namorada quando a campainha tocou, Edward jogou o telefone no gancho e disparou em direção da porta sem olhar para a mancha.

Estava com medo, mais medo do que já teve em toda sua vida, um frio estranho penetrava em seus ossos como estacas de gelo e a faca tremia junto a mão suja de sangue, pingando.

Olhou no olho-magico e viu um vulto de um homem parado de costas, usava uma jaqueta, de couro talvez, mas, havia algo errado, ele virou-se para o olho mágico, seu olho era completamente negro e sem brilho, seus lábios sem cor e sua pele muito branca, ele murmurou algo olhando para o olho-magico, Edward perdeu então o pouco controle que havia sobre seu corpo, abriu a porta com toda a força, forçando-a a bater com força na parede. Cegos de ódio e loucura, pulou sobre o vulto e empurrou a faca sobre sua carne macia, fez isso varias vezes, estava com ódio, com dor e com medo.

Quando a adrenalina baixou, ele olhou para o corpo sem vida que segurava entre os braços, era Gabi, sua namorada, e em sua testa, estava escrita com cortes profundos “vingança”.

Insanidade.

Eu me dispeço da mancha negra
já que fui criado na cidade escura
nós todos temos nossos demonios
realmente, tudo isso é uma loucura

se eu deixar a verdade fugir
me esconderei nas entranhas quentes
pare de assombar a saude suja
com os nossos cerebros doentes

a cicatriz de tinta some sozinha
em um coração de pedra e aço
esse é o seu mundo e o que você merece
dance comigo e não perca o compasso

Conversa.

todos os caminhos estreitos me levam
onde a luz caiu e a sanidade irá reinar
eu não sei sobre o julgamento justo
você algum dia me poderá me perdoar?

as mentiras proibidas machucam
e a palavra do pecador queima como brasa
você clamou meu nome em um choro
e eu vim lhe acolher de baixo da minha asa

eu estive sob a cruz de ferro
orando e lutando pelo futuro que eu queria
tão facil foi o caminho para a loucura
pai, porque de mim você esquecia?

sua mente chora pelos confinamentos
e apaga as luzes da sua mente conciente
um dia suas preces seriam atendidas
escuros são os dias novamente

percebi como sou fraco e incapaz
minha inocencia voou para o inferno
a unica pessoa que eu queria proteger
partiu dos meus braços para um sono eterno

Corvo.

porque ela teve de morrer sofrendo
em um lago de lagrimas e sangue?
porque eu não pude segurar sua mão
eu não fui forte o bastante?

ventos pesados trazem a tempestade
que com o ultimo raio ilumina
o cansado bater de asas do corvo
na ponta de uma corda termina

Lobo.

Em meio a essa alcateia desperdiçada e sonolenta
vejo um vulto sombrio e um lamento na escuridão
ele anseia por uma utopia perdida imoral
onde meus olhos tristes encontrariam escravidão

se você pode ver um pedaço meu no veneno escorrido
eu vejo um pedaço seu perdido no choro derramado
em meus caninos era possível ver a dor de uma vida
seu calor mostra um fraco coração infeccionado

procurando saciar minha sede por carne e sangue
sou um lobo como você que corre entre os cordeiros
a diferença é gritante com suas memórias felizes
e eu nunca tive um amigo pra ouvir conselhos

vê a minha mão suja da cor da vida perdida
é a cor que seu rosto vai esquecer eternamente
eu vou te conduzir para dentro deste inferno
e você será como eu definitivamente

um lobo cansado de uivar e não ter resposta
de caçar nas gélidas planicies solitarias
de ver com olhos sonhadores as terras distantes
e esquecer essas malditas visões acinzentadas

Faca de dois gumes.

Veneno repousa no copo ao lado
escondendo o pequeno apego egoísta
escorrendo na parede o medo incerto
sou um corvo, não um artista

sob o fogo a fortaleza se despedaça
não tente fugir para o esquecimento
eu lembro de cada frase contada
palavras não curam o sentimento

vitima de minha própria memória
a tortura esvazia a mente
eu quero apenas um abraço
e esquecer de tudo para sempre

não posso ver a tristeza
quando o punhado de sonhos é aberto
a vitima da faca de dois gumes
é feliz com seu sorriso aberto

Death.


trazendo a liberdade na angustia
Uma foice prateada brilha na madrugada
envolvido em chamas o ar ainda é frio
toda a esperança morre com a sua chegada

o inconciente cheiro apaga as luzes
não confunda a libertação com dor
a cavalgada para o desconhecido
a morte veio mostrar a sua cor

queimando a moralidade esculpida
envolto do ceifeiro maligno
a chuva cai e o caminho é aberto
quem diria que a morte é um ser benigno?

a sua hora de ir chegou finalmente
venha e segure a minha mão apodrecida
não ligue para o cheiro refletido
a minha palidez é uma velha conhecida

eu vim colher a vossa alma cansada
das sombras que pintam as paredes do mundo
as estrelas esquecidas não cantam mais
esqueça o medo insano e profundo

vozes na escuridão choram solitarias
não tenha medo de vir comigo
cante uma doce canção sobre o futuro
eu não sou de forma alguma seu inimigo

Acreditar ou não acreditar.

chorando pelo sangue azul que corre
O ódio é o unico caminho para o pecador
que se esqueceu de como é voar livre
eu ainda devo crer no criador?

por ele eu deveria matar
por ele eu deveria chorar
para ganhar o paraiso
você não pode me curar?

eu descobri a verdade por trás do mundo
eu vi coisas que não devia ter visto
eu descobri que era um cego e perdido
será que eu realmente existo?

na profunda agonia eu devo me vingar
sob a chuva eu seguro a lamina brilhante
estou de frente a sua porta escura
passar por tudo aquilo foi humilhante

quero provar o seu sangue quente
lembrar o sentimento de vida perdida
mantendo firme a posição superior
eu não queroe ser um escravo suicida

por isso empunho a lamina da verdade
encravo no peito de quem acredita
tudo isso é a vontade de deus
e é realmente a vida infinita?

eu quero mostrar a cor da verdade
quero tomar o vinho e ferir
chegou a hora de ir até o éden
e fazer o céu ruir

Passado.

estou lhe dando o meu ultimo conto
eu não pretendia te perturbar novamente
você sabe o que eu fiz, desculpe
não quero replantar essa semente

eu deixei para trás a primavera doce
eu ceifei o olhar inocente refletido
eu demorei pra achar o que havia procurado
eu chorei noites e noites sentado no frio

deixei ser esculpido na ferrugem
o meu nome perdido com o outono
suspiros e lagrimas, todos em vão
o sofrimento tomava o meu sono

onde o show de horrores iria?
até onde isso iria me levar?
por favor, não caia!
no honesto ato de me matar

Mundo vazio.

solitário, contemplando os céus sem nuvens
apenas um sonho, esquecido na memória
esperando ver lugares distantes
a terra onde se passava a antiga historia

a vida continua contando verdades
meus sonhos vão se perdendo
olhos malignos olhando com desprezo
e uma mente cansada, em dor se remoendo

olhando para o ceu triste e cinzento
pintado pelo mundo morto em que vivo
encostado na borda da janela escondida
passando dias e anos, muito cansativo

nenhuma dragão azul voando no horizonte
abrindo caminho entre a tempestade
acalmando as nuvens negras com seu olhar
eu choro por nada disso ser verdade

nenhum herói a cavalo com boas intenções
nenhuma criatura dentro do antigo labirinto
nenhuma donzela presa no alto da torre
nenhuma caverna com um monstro faminto

Jerusalém.

a bela cruz no deserto
os inimigos observam com cautela
a espada reluz sob o ceu descoberto
e o escudo ostenta a fé

a areia manchada no campo
a sombra irá embora
o mau deixará esta terra
com a chegada da aurora

sozinho o ódio o faz chorar
sob a espada desembanhada
a cruz improvisada
tráz ao cavaleiro palavras para orar

abra os olhos, nosso belo presente
a doce perola do deserto
abra os olhos, siga em frente
vamos tomar o que é nosso decerto

pelo medo a insanidade toma guerreiro
a dor demonstra o temor da morte certa
o sangue respinga do corte certeiro
e o ódio aflora da ferida aberta

no deserto, o choro da preciosidade
não consigo suportar a dor
nada brilha com a mesma intensidade
tenho minha bela cidade nas mãos de um desertor

a mão de deus está ao meu lado
me ajuda a empunhar a espada pesada
por ele eu lutarei mesmo por ele abandonado
esta é a minha ultima jornada

A elfa negra.

Ele caminhava calmamente pelos bosques de Elbon, trajava uma roupa de couro usada por guerreiros e uma espada jazia na bainha presa as costas. Em uma clareira entre as arvores, viu um estranho ser cantando e dançando com beleza. O guerreiro avançou entre os arbustos, ainda escondido e começou a observa-la, era uma elfa-negra. Sua pele era azulada e seus graciosos cabelos escondiam duas orelhas no formato de folhas, era uma princesa, uma princesa da floresta. Quando se aproximou mais um pouco, a elfa percebeu que estava sendo observada e correu para a floresta sumindo na escuridão.
O guerreiro, encantado com a sua beleza a procurou pela floresta por dias e sempre voltava até a clareira e lembrava-se do que viu.
Um dia, por sorte ou por ela ter deixado, o guerreiro a viu, ela estava sentada em uma pedra olhando para a lua. O guerreiro se aproximou lentamente e se apresentou, a elfa olhou assustada e sussurrou alguma coisa em uma língua estranha. Mesmo sem entender, o guerreiro considerou uma permissão para se aproximar mais, sentou-se ao lado da elfa, não sabia o que dizer, ele não sabia se ela entenderia. Seu coração batia rápido e seu corpo tremia, ele estava apaixonado pela sua beleza. Inclinou-se e ela deixou, os dois se beijaram sob a luz do luar.
A elfa então fez um gesto, segurou sua mão e desceu da pedra com incrível destreza, o guerreiro, de uma forma mais lenta, foi atrás.
Eles caminharam pela floresta escura sem medo, um tinha o outro e seus olhares se cruzavam com freqüência. Após algum tempo no escuro chegaram a uma pequena porta de madeira aberta em uma grande rocha, próximo de um pequeno lago com o formato arredondado, onde a água era calma e escura. A elfa virou-se para o guerreiro com um sorriso no rosto, soltou sua mão e entrou pela porta sumindo na escuridão lá de dentro e o guerreiro foi atrás.
Era muito escuro, mas no fundo, ao longe, era possível ver um ponto de luz muito clara. Ao andar pelo local, o guerreiro ouvia uma musica muito bela ecoando pelas paredes húmidas. O canto vinha da elfa, ele podia reconhecer sua bela voz em qualquer lugar.
Começou a correr e após algum tempo chegou até onde a luz estava, chegou a uma pequena ilha onde era possível ver um belo jardim onde as arvores frutíferas eram grandes e majestosas e as flores pareciam mais vivas, brilhavam como nunca sob a luz das estrelas e da lua. A elfa estava sentada em um tronco caido com as pernas dentro da agua do lago, ela as mexia freneticamente.
O guerreiro e a elfa se divertiram muito, mesmo um sem conseguir se comunicar direito com o outro. Comeram todos os tipos de frutas que encontraram, as quais a elfa pegava facilmente subindo em galhos com muita leveza e habilidade, ela parecia acostumada a fazer aquilo. Dançaram perto da agua sob a musica emitida por algum encanto da floresta que o guerreiro desconhecia e não fazia questão de descobrir, pois estava extasiado com a bela melodia. As forças da natureza agiam fortemente sobre a ilha e fizeram com que o guerreiro pudesse entender as palavras da bela elfa, os dois conversaram sub um enorme carvalho, a elfa contou seu nome, um nome impossível de ser pronunciado por um humano. Conversaram sobre muitas coisas e o guerreiro aprendeu muitos segredos místicos e o convidou para ir até a ilha sempre que quisesse para se encontrar com ela, mas não poderia fazer nenhum mal a natureza nunca mais ou a ilha o castigaria, e isso ele prometeu.
O guerreiro partiu com pesar no coração, pois havia amado a elfa e aquela bela terra e deixa-las era muito doloroso. De qualquer forma, o guerreiro ia até a ilha a cada dois dias e lá conversava com a bela elfa, contavam suas historias e conversavam, ela era o amor da vida do guerreiro e ele não podia perde-la.
Então, um dia, o guerreiro convidou a elfa para ir até sua casa, os dois saíram na madrugada da ilha e passaram pela porta na rocha, quando entraram na floresta onde haviam se conhecido, um enorme urso negro apareceu na frente dos dois, ele parecia furioso e faminto. Rapidamente, visando proteger sua amada, o guerreiro sacou sua espada e perfurou a barriga do urso, quando o mesmo levantou-se nas duas patas traseiras para golpear a elfa com sua pata. O urso caiu de bruços sobre a elfa machucado-a. O guerreiro pegou o frágil ser nos braços e carregou para a ilha, lá implorou para que a natureza salvasse sua amada mas a natureza nada fez. Ela então disse que o urso não a atacaria de verdade, que ela só queria saber se o guerreiro era digno de ter a sua mão, e ele não foi. Uma voz entre as folhas verdes das arvores ecoou e disse para que o guerreiro deixasse a elfa e fosse embora da ilha para nunca mais voltar e por amor, ele o fez.
A porta na pedra nunca mais foi encontrada.

Troll.

O velho troll descansa sob o carvalho

Esperando o antigo vento fazer seu trabalho

Refrescando seu corpo e sua mente

Esperando o sol abaixar derrepente.

Correndo pela mata, lá está seu jantar

E o prudente troll sem nada falar

O cervo corre na outra direção

Mas isso só da ao troll, mais diversão.