terça-feira, 21 de junho de 2011
Fantasia.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
quarta-feira, 15 de junho de 2011
Peter Pan.
Donzela.
luxuria e amor.
Batalha e tormento.
Aproximando.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Buscas.
Canções.
De Fingolfin.
Corra.
Em algum lugar dos cinzentos becos da periferia, um garoto movia-se rapidamente correndo entre os corredores escuros. Atrás dele, colados as suas costas, vinham dois perseguidores cobrindo rapidamente o terreno que os separava, seus passos firmes chocavam-se com as poças no chão irregular e acidentado, fazendo a água suja respingar para longe em varias direções.
Acima deles, o céu estava coberto por grades e majestosas nuvens cinzentas, que tornavam o dia escuro, algo que lhe dava um aspecto um tanto triste, algo próprio para o que fato que iria ocorrer naquele fim de tarde. Raios cruzavam o céu constantemente, clareando o escuro caminho que se estendia à frente como faixas de luz e seus trovões altos e estrondosos, ecoavam pelos corredores levantados por grossas paredes de tijolos avermelhados. Grandes gotas de água desciam do céu tempestuoso explodindo quando se encontravam com algum alguma resistência, ocasionalmente, o rosto do fugitivo.
O fugitivo, por ser alto, esguio e ligeiramente magro, conseguia correr muito rápido, algo que os dois homens atrás dele, que possuíam um porte mais robusto, não haviam calculado direito em sua insensatez. Suas pernas, compridas e finas, lhe davam velocidade para correr com grandes passos e impulso para saltar os obstáculos que apareciam ocasionalmente em seu caminho, que muitas vezes não passavam de sacos de lixo, entulho ou até, pequenos animais. Seu rosto pálido e de aparência cansada, com traços e linhas bem definidas, mostrava uma mascara de medo e tensão, que era vislumbrada pelos perseguidores toda vez que ele o virava para trás procurando calcular a distancia. O suor que se misturava com a água da chuva, descia pelo rosto em finas linhas, começando de seus cabelos claros e terminando, por muitas vezes, em seus brilhantes e pequenos olhos claros ou, em raras oportunidades, em sua fina e pequena boca, trazendo-lhe um gosto estranhamente salgado, algo o qual não dava a mínima atenção, não no momento. Sua blusa negra e de um tecido grosso e quente, que em teoria o protegeria do frio, estava completamente encharcada com a água da chuva, seu zíper da frente estava fechado apenas até a metade, onde seu braço, coma manga machada de sangue, entrava por dentro dela e parecia pressionar algum ferimento. Suas calças jeans eram escuras e desciam até o par de tênis, que já não lhe oferecia qualquer proteção contra a água da chuva que estava na rua em poças ou correndo pelas extremidades, molhando sua meia e lhe causando muito frio, mas, isso não importava, só precisava continuar correndo até estar a salvo, até deixar os dois homens para trás e estar no conforto da sua casa, poder ver seus pais novamente, poder conversar com ela...
Atrás dele, a dupla de perseguidores vinha a toda velocidade, um era alto e robusto, de ombros largos e braços grandes, pele de cor escura e um sorriso malicioso cobrindo o rosto. O outro era menor, de cabelo escuro e curto, pele clara e um olhar ameaçador. O grande perigo para o garoto que corria desesperadamente pela sua vida estava no par de grossas e brilhantes facas que os dois portavam firmemente nas mãos. A que o garoto menor segurava, reluzia uma mancha avermelhada.
Após alguns minutos de corrida frenética, o fino solado do tênis do fugitivo não lhe deu proteção contra um grande prego enferrujado que estava preso a um pedaço de madeira velho, cujo repousava no chão. Ele penetrou pela borracha e cravou-se profundamente no pé do garoto, que sentiu a aguda dor do ferro rasgando sua carne. Em vão, tentou dar mais um passo, porém, o prego não se soltou de seu pé e o pedaço de madeira ao qual ficou preso por conseqüência, continuou lá, fazendo sua perna fraquejar perante a dor e perder o apoio que deveria dar. Por fim, tombou para frente em um baque surdo que ecoou mais alto que qualquer trovão, pelo menos para ele. Seu rosto chocou-se de frente com o concreto frio e molhado.
A dor de seu dente rachando-se contra o chão foi forte, a dor do prego enferrujado dentro de seu pé era muito forte, mas nada se comparava com o medo que tomou conta de cada célula do seu corpo quando percebeu que caminho tudo isso estava tomando, talvez um caminho sem volta.
Seu corpo tremia muito, mas não sabia se era por causa do medo ou do frio, virou-se para a direção de onde veio e observou o semblante escuro dos dois homens aproximando-se e entrando em seu campo de visão, graças a uma fraca lâmpada que pendurava na parede mais próxima. Com a mão direita, puxou o pedaço de madeira com força e conseguiu tirar junto o prego que lhe causava tanta dor, depois, atirou-o para o lado com força.
A cada passo que a dupla dava, o garoto sentia um pedaço de esperança sendo quebrado bem a sua frente. Uma sensação terrível tomou-o por completo, um medo absurdo de que talvez não pudesse sair daquela situação com vida, algo impossível de ignorar.
O vento gélido soprava forte e o garoto sentiu seu corpo estremecer em espasmos de calafrios, seu peito queimava como brasa graças ao ferimento que o haviam causado há alguns minutos atrás, antes da fuga. A respiração arfante vinha em grandes impulsos de ar, que eram puxados com força, o ar frio entrava em seus pulmões queimando-o fracamente, mas, causando grande incomodo. Usado o resto de força que lhe restava, que não era muito graças à corrida, colocou os dois pés no chão, a dor subiu pelo pé perfurado, mas não se importou. Com um fraco gemido, escorou-se em uma parede com as mãos, usando-a de apoio e pôs-se de pé com dificuldade. Depois, ficou frente aos dois homens que haviam parado a poucos metros dele e os fitou com um olhar firme, um olhar brilhante que entre a escuridão, dançou maliciosamente estudando os dois. Eles o observavam firmemente também, mas, com menos cautela, graças à vantagem numérica e por estarem armados, esbaldavam a confiança que possuíam, talvez, a única vantagem do fugitivo.
O garoto não saberia dizer quanto tempo ficaram parados ali com os olhares se encontrando, também não sabia dizer o que passou pela sua cabeça naquele momento, mas, por um momento, pensou ter ouvido uma voz, uma voz vindo de longe, quase como um sussurro inaudível em meio ao fraco assobio do vento gelado que atravessava o corredor.
Uma gota desceu com força dos céus, e, por obra de um cruel destino, caiu em seu olho esquerdo. No exato momento em que piscou para limpar a visão que se tornou embaçada por alguns segundos, os dois atacantes vieram em sua direção em uma rápida investida atravessando o corredor em poucos e compridos passos, e logo, o espaço entre eles parecia ter diminuído em um instante. Antes que pudesse pensar em como ia defender, um punho fechado veio em uma velocidade absurda e acertou-o no lado da cabeça, acima da orelha, empurrando-o para trás. Sua visão embaçou por causa do choque, mas, antes que pudesse revidar, outro soco acertou seu rosto, dessa vez, vindo do outro homem. Seu nariz espirrou um curto jato de sangue vermelho, causando uma dor alucinante que o deixou atordoado por alguns instantes, algo que poderia decidir o futuro da briga. Deu alguns passos para trás procurando ganhar tempo para recobrar os sentidos, mas, sentiu uma pontada de dor queimar-lhe o abdômen e sentiu algo quente escorrer pela sua pele e descer pela barriga em uma linha.
Um frio insuportável inundou seu corpo cobrindo-o de ponta a ponta e penetrando até os ossos. Atordoado e com muita dor, jogou as costas contra a parede em um pequeno e violento salto. Seus dedos tremiam muito, mas, mesmo assim, colocou a mão por dentro da abertura da blusa encontrando no novo ferimento, mais profundo e mais dolorido que o primeiro. Ao puxar a mão de dentro da blusa, viu que ela estava encharcada de sangue fresco, observou-a incrédulo e voltou-se para os dois homens que assistiam a tudo.
Com uma explosão de energia, causada pela dor e desespero, partiu em fúria na direção do homem que estava mais perto, que se assustou e não conseguiu reagir, sem emitir qualquer barulho. O punho fechado do garoto acertou-o no rosto com força, fazendo o homem dar um passo para trás, logo depois, sem perder tempo, outro golpe acertou o homem de pele escura com força, dessa vez, na boca do estomago, fazendo o corpo dele inclinar-se para frente tentando suportar a dor. Um gemido saiu de sua boca como se tentasse esconder isso do companheiro, que observava tudo sem reagir, talvez por choque do ataque violento e instantâneo, talvez por analisar o homem que vinha com ele e suas ações, talvez até por sentir medo.
O homem, agora ferido, investiu para cima do garoto com um grave urro de raiva, porém, isso não intimidou o garoto, que se abaixou rapidamente desviando do soco que tinha seu rosto como destino, depois, com um ágil movimento, virou-se de costas para o atacante dando um rápido giro, com o impulso que havia ganhado, levantou a perna e chutou-o nas costelas. O homem soltou um grito muito agudo, colocou a mão sobre a costela que havia sido golpeada e deu alguns passos para trás.
O momento heróico durou pouco, o homem que esteve apenas observando tudo, em um golpe rápido, acertou o punho fechado nas costas do garoto, fazendo-o perder a força e, nesse momento, enrolou os braços em torno dos dele, enroscando-se como uma cobra, deixando o garoto virado para o homem que havia acabado de golpear, mas agora, estava indefeso.
- Segure-o bem, não vou ter dó desse filho da puta! – grunhiu com raiva o homem parado a frente do garoto, uma linha de saliva escorreu da sua boca, mas ele pouco se importou.
- To fazendo isso, anda logo e acaba com ele! – berrou o homem mais alto, que segurava o garoto.
Ao se aproximar do menino, deu-lhe um soco com muita força na boca do estomago, fazendo-o inclinar-se para frente. O ar que foi respirado com muita dificuldade no segundo anterior, deixou os pulmões do garoto, que, sem ar, só não desabou no chão porque estava preso.
- Ta gostando? – perguntou ironicamente o sujeito aproximando o rosto do rosto do garoto preso. – eu posso fazer a dor parar se você quiser. – terminou fechando a mão envolta do ombro direito dele e, com um pequeno impulso, acertou-o no estomago novamente, agora, com uma forte joelhada.
- Ele não está nem gemendo, acerta ele com mais forçam porra! – disse o homem que o segurava com o tom de voz cada vez mais alto.
Novamente, o garoto foi golpeado, dessa vez, um forte cruzado encontrou seu olho esquerdo.
- Eu to acertando ele com toda a minha força, vai ver, o viadinho já desmaiou. – respondeu o sujeito observando o garoto que parecia não ter forças nem para continuar de pé.
Um abafado e curto riso veio do garoto.
- Você não vai conseguir me fazer gemer do mesmo jeito que a sua mãe gemeu ontem à noite. – disse com desdém na voz, levantando a cabeça e olhando para o homem parado na sua frente. Seus olhos esverdeados, agora não tinham nenhum brilho e seu rosto pálido lhe deu uma aparência estranhamente sombria.
Julgar.
Aquele ato, tão chocante para a sociedade que olhava apreensiva com seus olhos incriminadores o homem ferido ser algemado e escoltado até a viatura, podia ser visto de um milhão de perspectivas. Algo estranho de se imaginar, realmente, é impossível entender de todos os modos se você esteve presente, se você vive e tem uma parcela, mesmo que mínima, de vivencia.
Um homem, horas atrás, andava em passos rápidos em direção a uma pequena padaria. A arma na sua mão cintilava em um brilho frio de aço, um brilho mortal. Seu olhar firme escondia, como uma mascara, os pensamentos que lhe levaram ao tal ato, os medos que a reflexão sobre o estado em que se encontrava lhe condenavam, mas aquilo precisava ser feito.
Sua mãe estava muito doente e só seguia com vida pois alguns aparelhos faziam o serviço que vários órgãos precisavam fazer, mas para que eles continuassem funcionando, precisava de dinheiro. Ninguém via assim, ele cometeu um assassinato e era só isso que a sociedade enxergava, ou parecia enxergar, ou se obrigava a enxergar. Naquele lugar frio e úmido, com a arma na mão ainda soltando fumaça apontada para frente graças ao seu braço imóvel, o homem caído de costas para a parede com um buraco no peito, naquela pequena padaria da periferia, o mundo parecia outro, parecia... parado.
Antes que pudesse reagir, antes que pudesse entender, fora apanhado em uma corrida desesperada pela liberdade, subindo pelos telhados, correndo sobre os muros. Era isso que queria pra si mesmo? Deveria ter pensado melhor.
Agora, estava jogado frente ao futuro pesado que se aproximava. Antes de tudo, poderia apoiar sua mãe até a sua morte e não causa-la.
Lua.
O crepúsculo se aproximava apressado e o limpo céu azul começava a ser manchado por um avermelhado intenso, as poucas nuvens perdiam o foco quando o manto negro da noite cobria a vastidão da visão humana, sua escuridão penetrava na mente do homem como uma faca limpa e brilhante, que refletia com seu aço frio todos os medos que se aproximavam.
Lá, para onde os pássaros não voavam, lá onde as canções não faziam sentido, lá onde as pessoas temiam, lá onde a beleza se perdia. Lá era onde ele morava, na pequena casa de tijolos cinzentos mal pintados, onde um numero prateado estava pregado. Era assim há muito tempo, todos sabiam, era assim desde que começou, desde que fora mordido.
Havia feito calor durante o dia inteiro, o sol lhe deu uma falsa sensação de esperança, mas, com aproximação da noite, ventos frios traziam arrepios ao homem constantemente e com eles, a certeza dos males que ocorreriam.
Seus braços cheios de cortes e rasgos profundos estavam apoiados na borda da janela. Muitas cicatrizes clareavam a pele pouco bronzeada e mais dores do que podia suportar eram trazidas a sua mente cada vez que as fitava.
Puxou o vidro da janela com força e o barulho ecoou pelo quarto semi-vazio e mal iluminado dando um aspecto de solidão inexorável.
- Ela já deve estar longe. – Resmungou o homem a si mesmo com sua voz grave.
Falar sozinho era costume quando dias assim chegavam, era como ter um amigo invisível, a solidão parecia menos depressiva.
Caminhou em passos lentos e arrastados até o banheiro no outro lado do aposento, abriu a porta, que rangeu alto preenchendo o silencio que inundava o local.
Vários cacos de espelho estavam caídos no chão em diversos formatos, o resto do objeto na parede estava com varias rachaduras e marcas de sangue pintando as formas retas formadas em sua superfície. O homem, ao entrar no banheiro pisou com seus pés descalços em alguns cacos, que penetraram fundo como espinhos de roseira, mas, pouca atenção lhes foi dada. Ele parou frente ao resto do espelho quebrado pendurado na janela e fitou-o. Fez uma careta de indignação.
- Nunca fui um homem bonito, mas, ando um lixo! – comentou consigo mesmo passando a mão calejada pelo rosto e dando uma boa olhada em sua barba que crescia como grama no verão. – preciso voltar a me cuidar, não sei como a Amélia ainda gosta de mim... – terminou.
Inclinando um pouco a cabeça para baixo, fitou a alva pia de porcelana Abriu a torneira e deixou a água fria cair em uma fina linha de água limpa e clara, na qual molhou as mãos e passou-a pelo cabelo ralo e oleoso jogando-o para trás.
Virou-se para a porta e caminhou até a velha cama de casal que praticamente se estendia de parede a parede do quarto. Sentou-se e colocou um pé sobre o joelho, viu os cacos que haviam penetrado no seu pé e ficou surpreso de com o numero, tão poucos. começou a tira-los com os dedos em forma de pinça, quando terminou, olhou novamente para a janela, mas, sem sair do lugar que estava. A noite estava chegando rapidamente, a luz do sol já se dissipara quase que totalmente, levantou e correu em poucos passos na direção a porta, trancou-a e o fez também com o pesado cadeado dourado.
Tudo ia desmoronar novamente, os sentimentos, as lembranças. Era assim sempre que a lua cheia subia, sempre o medo crescia e o maldito cão prevalecia. O único pensamento que o mantinha firme era que Amélia estava a salvo e era isso que importava, ela havia estado com ele e o dava forças para continuar em frente, independente de seus problemas, ambos eram felizes, por isso, perde-la era o seu maior medo, era como perder o único pilar que o sustentava.
Voltou para a cama e deitou-se nela de qualquer jeito.
- Juntos na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. – disse pra si mesmo olhando para os restos da lâmpada no teto que um dia já iluminara o local. – quem ia acreditar nisso? Em um voto feito na igreja? – terminou.
Após um riso seco e irônico, voltou os olhos para a janela. A noite chegou. A lua cheia emergiu.
O velho ciclo estava pronto para recomeçar, todo o medo havia ido embora durante os primeiros anos, claro, a ilusão de que um dia poderia ser o homem que fora um dia, já estava enterrada há muito tempo. Os pesadelos dançavam na escuridão como demônios, trazendo pensamentos horríveis a mente do homem, medos escondidos sob uma fina camada de insegurança.
Começou, a dor se alastrou por todas as células do seu corpo queimando como gelo, ardendo como brasa, fazendo seus membros se contorcerem em formas estranhas e irregulares, seus olhos reviraram-se para cima tornando tudo mais escuro do que deveria estar, suas mãos agarraram o lençol rasgado e puxaram-no com força soltando-o das bordas do colchão. Aos poucos, sua forma humana foi sendo alterada e seus traços tornando-se animalescos. Seu nariz começou a esticar e tornar-se um comprido e largo focinho, sua boca sofreu do mesmo mal e seus dentes cresceram rapidamente tornando-se afiados e pontiagudos, como presas. Suas unhas cresceram até tornarem-se cinco pares de afiadas garras negras, que penetraram fundo no colchão rasgando-o em puxões poderosos, suas pernas dobraram-se para trás e esticaram afinando-se, o mesmo aconteceu com seus braços e, aos poucos, pelos cinzentos começaram a crescer por todo o seu corpo em uma velocidade absurda.
Estação.
Batimentos.
Vingança.
O gélido vento de uma noite de outono atravessava a rua como um sussurro ríspido e triste, acompanhando-o vinham os últimos olhares nervosos e esperançosos observando o movimento quase morto de suas janelas altas e protegido nos prédios cinzentos e antigos que se estendiam em direção ao céu rasgando-o como a ponta de uma faca.
Em um desses prédios, não no mais bonito e nem no mais feio, morava Edward.
Claro, aos 20 anos, era difícil para ele manter o aposento completamente limpo e arrumado, algumas roupas estavam espalhadas e amassadas no chão do único quarto, sua cama estava desarrumada a dias e sobre ela, um prato jazia com farelos de pão.
Com um estrondo alto que ecoou pelo corredor escuro do andar em que morava, a porta da entrada de seu apartamento abriu chocando-se contra a parede com força e uma rajada de um vento frio invadiu o local.
Edward acordou subitamente de um leve cochilo no sofá, levantou-se e preguiçoso, arrastou os pés pelo chão frio e liso até a porta, fechou-a sem qualquer barulho e voltou seus olhos para o relógio redondo posto na parede. 8:00 horas, sua namorada chegaria as 10:00, havia tempo de sobra para arrumar o local, tomar um belo banho quente e talvez, pedir a sua janta, uma grande pizza.
Foi até o quarto com movimentos lentos e cansados, recolheu o prato e levou-o até a pia, não com mais velocidade do que fez qualquer coisa anteriormente, com sua mão livre, coçou o olho e procurou tirar qualquer tipo de sujeira ou meleca que pudesse assustar a garota.
- Talvez aconteça hoje. – disse a si mesmo enquanto dobrava um cobertor que cheirava a mofo. – Talvez ela até durma aqui, é tarde, não vou deixar ela ir embora sozinha... talvez ela queira transar comigo!
Edward namorava uma garota a quase três meses, ela não era virgem, de forma alguma, mas sempre parou qualquer iniciativa do rapaz com alguma desculpa esfarrapada, isso deixava o Edward nervoso.
- Será que tenho alguma camisinha perdida? – se perguntou enquanto jogava a coberta dobrada sobre a cama. – Faz tempo desde a minha ultima transa, foi com aquela bêbada no banheiro de uma balada. – terminou, sentiu um leve formigamento entre as pernas e sorriu.
Depois de arrumar o pequeno apartamento, olhou novamente para o relógio, quase 9:00 horas. Ele precisava de um banho, sentia um cheiro horrível emanando de todo o seu corpo suado, havia trabalhado até mais tarde naquele dia, recebendo um dinheiro a mais para o dia de hoje. Seu cabelo estava oleoso por causa do muito suor que escorreu enquanto estava no ônibus lotado.
- Nenhuma garota vai sequer olhar pra mim com essa cara. Muito menos chegar perto com esse cheiro de porco suado. – resmungou.
Pego sua toalha estendida em uma pequena cadeira de madeira, onde moravam alguns cupins, colocou-a sobre o ombro, pegou uma muda de roupas dobradas e foi para o banheiro sujo escuro e com um leve cheiro de esgoto.
Ascendeu a luz usando o interruptor ao seu lado e caminhou até a pia em dois passos curtos, colocou a roupa em cima e pendurou a toalha em um gancho de ferro preso a parede, depois, despiu-se, jogou a roupa em um canto no chão e abriu o chuveiro entrando em baixo dele logo em seguida, no começo, a água estava fria, mas logo esquentou seu corpo, fazia frio e a água quente lhe dava novas forças depois de um dia cansativo.
Seu corpo corou enquanto a água lhe esquentava, depois de um tempo, começou a passar o sabonete pelo corpo sem pressa, mas antes de qualquer outra coisa, o chuveiro deu um forte estalo e uma luz ascendeu em um fio verde que ficava para fora da parede, em seguida a água deixou de ser quente e tornou-se muito gelada e Edward estremeceu e resmungou.
- Cacete de chuveiro velho!
Desligou o chuveiro o mais rápido que pode e estendeu o braço a procura da toalha, não encontrou, olhou para o gancho de ferro e ele estava vazio.
Pegou a toalha de rosto na pia, pensativo e começou a secar seu corpo magro com aquele pedaço de pano minúsculo, colocou o short, mas antes que pudesse vestir a camiseta que havia pego, ouviu um barulho alto vindo da sala, como de um vidro se estilhaçando.
Abriu a porta e olhou, a sala, cuja estava escura e se perguntou se havia desligado a luz, quando ouviu um barulho vindo do quarto.
Ladrões, pensou na mesma hora.
Fechou a porta do banheiro e fechou o trinco, quem quer que fosse, não iria o levar embora, talvez fosse alguém vindo atrás dele por causa do seu passado estranho.
Apagou a luz do banheiro de modo que a única claridade no aposento vinha da pequena janela no alto do lugar, parou de frente para a pia e jogou a cabeça para trás com os olhos fechados, abriu a torneira de modo que uma fina linha de água caia na pia, molhou as mãos e molhou o rosto em seguida tentando por os pensamentos em ordem.
- Acho que estou ficando paranóico. – disse ele olhando para o espelho. – talvez tudo isso seja coisa da minha... – parou, quando fitou o espelho com cuidado.
Uma mancha vermelho-escuro pintava seu rosto com uma grossa camada, olhou para as mãos e elas também estavam com essa cor, deu um grito alto e olhou para a pia, o que antes era água que saia da torneira, parecia... sangue.
Limpou o rosto com a camiseta que estava perto e saiu do banheiro, atravessou a sala com os punhos cerrados e passos longos e firmes até que sentiu algo penetrando na sola de seu pé descalço, com um gemido abaixou-se e viu um fino caco de vidro rasgando sua carne, arrancou-o e percebeu quando olhou para cima, a luz estava apagada porque a lâmpada havia explodido.Riu para si mesmo.
- Que idiota que eu sou. – pensou pondo a mão no rosto.
Mas, a mancha de sangue na mão era real, fazia muito tempo que não usava qualquer tipo de droga, havia parado com isso e não iria voltar. Após resmungar, ouviu um barulho estranho vindo de seu quarto.
- São só alucinações, não tem nada lá. – repitiu pra si mesmo algumas vezes enquanto ia em direção a mesa.
Pegou a faca que estava lá em cima, empunhou-a com força e foi em direção ao quarto, cujo a porta estava fechada. Eu não a fechei, pensou.
Abriu a porta de madeira fina lentamente, fazendo mais barulho do que esperava, não havia nada lá, nada anormal. Suspirou aliviado.
Virou-se para a sala, e então, seu coração saltou forte. Na parede havia uma mancha enorme de sangue, de quase dois metros se estendendo horizontalmente, como se uma mão sangrando tivesse passado por ela, ele conseguiu perceber algo parecido com dedos no final da linha, colocou a mão na boca e esfregou os olhos, ela ainda continuava lá.
Correu em direção ao telefone, que estava sobre um balcão e começou a discar o numero da sua namorada quando a campainha tocou, Edward jogou o telefone no gancho e disparou em direção da porta sem olhar para a mancha.
Estava com medo, mais medo do que já teve em toda sua vida, um frio estranho penetrava em seus ossos como estacas de gelo e a faca tremia junto a mão suja de sangue, pingando.
Olhou no olho-magico e viu um vulto de um homem parado de costas, usava uma jaqueta, de couro talvez, mas, havia algo errado, ele virou-se para o olho mágico, seu olho era completamente negro e sem brilho, seus lábios sem cor e sua pele muito branca, ele murmurou algo olhando para o olho-magico, Edward perdeu então o pouco controle que havia sobre seu corpo, abriu a porta com toda a força, forçando-a a bater com força na parede. Cegos de ódio e loucura, pulou sobre o vulto e empurrou a faca sobre sua carne macia, fez isso varias vezes, estava com ódio, com dor e com medo.
Quando a adrenalina baixou, ele olhou para o corpo sem vida que segurava entre os braços, era Gabi, sua namorada, e em sua testa, estava escrita com cortes profundos “vingança”.
Insanidade.
Conversa.
Corvo.
Lobo.
Faca de dois gumes.
Death.
Acreditar ou não acreditar.
Passado.
Mundo vazio.
Jerusalém.
A elfa negra.
Troll.
Esperando o antigo vento fazer seu trabalho
Refrescando seu corpo e sua mente
Esperando o sol abaixar derrepente.
Correndo pela mata, lá está seu jantar
E o prudente troll sem nada falar
O cervo corre na outra direção
Mas isso só da ao troll, mais diversão.