Dentro dela, um homem pálido estava sentado em uma pequena cama. Seus olhos eram escuros e pareciam sempre cansados por conta de suas olheiras. O cabelo era claro, mas rareava no topo da cabeça. Seu nome era Dylan.
Todos os dias a rotina era a mesma dentro da cela. Dylan levantava de sua cama e passeava pelo cubículo. Comia sua comida velha. Riscava os dias que faltavam para se encontrar com as sombras. Alongava os músculos e fazia exercícios, como abdominais e flexões. Carter, o carcereiro, passava pelo corredor todas as manhãs, acordando os carcereiros batendo com seu cassetete pelas barras de aço. Era um homem gordo, de bigode negro e cabeça calva.
Quando via Dylan, o sujeito sempre fazia a mesma piada.
- Está fazendo exercícios por quê? Quer ficar bonitão pra pegar as gatinhas do inferno? – e ia embora às gargalhadas, com as mãos apoiadas em sua barriga farta.
Dylan o odiava, mas não tanto quanto odiava seu vizinho de cela, Andrew. Ele dizia ser o Capitão America e que poderia entortar aquelas barras e sair dali quando quisesse.
- Por que não sai então? – perguntou Dylan certa vez.
O homem olhou para ele fixamente por alguns segundos e finalmente murmurou.
- Não posso, eles saberiam que estou por aqui. – e Dylan nunca mais tocou no assunto.
Afora isso, a vida de Dylan no corredor da morte era muito tediosa. Chorava em silêncio por ter sido pego. Chorava em silêncio por Amy. Chorava em silêncio pelas dores de não poder completar nem seu vigésimo ano. Chorava em silêncio pelo sangue em suas mãos, um sangue que não poderia ser lavado.
Até que, certo dia, um pequeno ratinho passou correndo pelo canto escuro, se esgueirando pela parede rápido como apenas um animalzinho com fome pode ser.
Dylan observou-o por algum tempo, até ele desaparecer no ralo aberto.
Algo que sentia muita falta era de alguém para conversar. Andrew era insuportável e Carter parecia sempre disposto a fazer alguma piada de mau gosto sobre o sabor da morte.
- Eu tinha um cachorro. Chamava-se Thor. Era um pastor alemão que batia na minha cintura. – disse em voz alta, deitando na sua cama de palha. Olhou para o teto por um instante e fechou os olhos. – Ele era lindo. Andava pra lá e pra cá como um rei, todo fodão. Eu gostava de passear com ele pelo bairro e acho que ele também gostava. Era todo musculoso e parecia sempre bravo, assim nenhum outro cachorro chegava perto. Estava sempre com a língua pra fora também. Uma língua rosada e sempre cheia de saliva... Eu me divertia com ele, me divertia muito...
Dylan abriu os olhos e riu.
- Porra, dei pra falar sozinho agora?
Então, um barulho miúdo veio do chão. Dylan rolou na pequena cama até quase cair e viu o dono do ruído. O ratinho, que antes havia passado por ali, estava parado, encarando-o.
- Oi, amiguinho. – disse Dylan sorrindo. – o que você quer aqui? Não tenho comida.
O ratinho soltou um ruído e levantou-se, ficando de pé sobre as patas traseiras. Inclinou a cabeça na direção de Dylan e fez outro ruído com os dentes.
- O que foi?
O ratinho desceu e continuou encarando Dylan.
- Seu putinho. O que diabos você quer? – disse irritando-se, com a voz ainda mais alta.
O rato permaneceu quieto.
- quer conversar? – perguntou Dylan. Parecia perplexo com o animalzinho e mais perplexo por estar falando com ele, mas continuou. – quer saber por que eu estou aqui?
O minúsculo ratinho pareceu deitar-se, se é que ratos fazem isso.
- Está bem... Acho que tudo começou quando eu escutei a minha mãe...
Faltavam apenas alguns dias pro meu aniversario de doze anos quando acordei no meio da noite. Pensei ter ouvido alguma coisa, por isso levantei da cama e peguei meu taco de baseball atrás da porta. Bandidos. Pensei na minha inocência jovial. Segurei o taco pelo cabo e atravessei o corredor escuro. Então ouvi novamente o barulho. Uma espécie de gemido abafado e então, o som de um tabefe. Corri e percebi que o som vinha do quarto dos meus pais. Assustado, abri a porta e dei de cara com a minha mãe pelada
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